domingo, 29 de março de 2009

O Fenômeno das Rugas Cerebrais

De acordo com a filósofa Simone de Beauvoir, no seu livro “The Coming of Age” (A Idade Madura), a população mais idosa, o chamado grupo da minoria improdutiva, sempre teve seu destino subordinado aos interesses da maioria ativa. Em grandes civilizações como a China, Esparta, Grécia e Roma, quando se tratava de manter a ordem estabelecida, os idosos eram chamados a serem os intermediários, os juízes. Entretanto, o mesmo não ocorria em épocas de mudanças ou revoluções, quando então só os mais jovens eram chamados a colaborar. Ou seja, aos idosos ficou quase sempre reservado o papel do passado, enquanto o desenho do futuro era privilégio dos jovens.

É tanto privilégio juvenil que num fórum sobre a longevidade, em 2007, Eduardo Giannetti, filósofo e economista, opinou, afirmando que: o aumento da expectativa de vida nos leva não apenas a reinventar a velhice, mas também a repensar todas as etapas anteriores, especialmente a da juventude.

As fases estão sendo redefinidas; a velhice é empurrada para mais tarde, e isso se reflete no comportamento das pessoas, afirmaram as jornalistas Mendonça e Velloso, da revista ÉPOCA.

No século XXI, o papel antes desempenhado na Antigüidade pelas estátuas hoje é exercido por estrelas de cinema, TV, modelos de passarela de publicidade. A diferença é que as pessoas querem, de verdade, ser parecidas com elas, mesmo sabendo que as fotos estampadas nas revistas e nos cartazes, retocadas com os recursos da computação gráfica, são tão artificiais quanto as estátuas gregas.

Com a Revolução Industrial, no fim do século XIX, as pessoas passaram a ser substituídas por máquinas e iniciaram um estilo de vida mais sedentário e uma abundância de comida passou a ser produzida. No início do século XX, com a exposição dos corpos como modismo ascendente as mulheres iniciaram uma preocupação com a boa forma.

Todavia, o “exagero” ocorreu nos anos 60. Envolta do movimento feminista e revolução sexual, as mulheres passaram a excluir o modelo antigo de beleza: o corpo de violão, que misturava cinturinha fina a seios, quadris e coxas fartas passando a vigorar um novo estilo, que rejeitava a mulher como objeto e reprodutora.

Neste aspecto, a cirurgia plástica, por exemplo, é uma excelência no Brasil, sendo que sua cultura começou nos anos 60, pelo seu patriarca, o famoso cirurgião plástico, Ivo Pitanguy. Entretanto, atualmente, nem a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e o governo têm dados exatos sobre o tamanho deste mercado.

Hoje as mulheres casam mais tarde e querem parecer jovens por mais tempo – e magreza sempre foi associada à juventude. Segundo esse raciocínio, as mulheres que querem ser magras estão, de certa forma, em sintonia com o gosto masculino. Os mesmos homens que enaltecem as cheinhas também preferem as mais jovens.

Todavia, não são apenas as mulheres que são seduzidas pela mídia; há também a excelência masculina: a magreza e o seu vigor, representadas pelos vigoréxicos, os que exacerbadamente fazem exercícios físicos.

Enfim, o sonho de manter a aparência jovem enriquece cada vez mais uma indústria milionária, que nos EUA, até o final de 2009 pretende movimentar US$ 3 bilhões com a venda de cremes anti-idade.

Porém, não vejo problemas das pessoas usarem Avon, Natura e demais produtos ou até mesmo métodos cirúrgicos para corrigir linhas de expressão e demais “imperfeições”. Todavia, para os famintos “cães e cadelas humanos”, atrofiados de intelecto, que hoje caminham nessa estrada “vasculhando o lixo” em busca de um antídoto novo para a morte e degeneração do corpo, só posso afirmar-lhes uma coisa: que você pode fazer tudo externamente, entretanto, jamais poderá impedir, pelo contrário, irá acentuar suas rugas cerebrais.

Acesse aqui, e assista o incrível vídeo sobre os "Valores Transmitidos pela Mídia".



quinta-feira, 19 de março de 2009

Adestramento Sexual

A educação é algo que perpetua na humanidade. Seja a de qualificação boa ou má. A humanidade é constantemente ensinada a viver. Isto é, entre o certo ou errado e pecado.

A humanidade é sexual. Tudo é sexo, como já afirmei num artigo anterior. Seja pela sua simples sedução ao ato sexual propriamente dito. Mas isso é uma educação...

Na história humana, vemos ações e punições. O ser humano foi aos poucos tendo que ser o sexo e fazer o “sexo correto”.

Na antiguidade, na Grécia, por exemplo, o ato hoje considerado homossexual era comum, principalmente entre o mestre e o discípulo, pois acreditavam que o homem detentor do saber passaria seus conhecimentos através do sêmen. Com o advento da religiosidade e com a aliança entre Igreja e Estado, a heterossexualidade passou a ser a regra, e a fuga dessa lei fizera com que a homossexualidade bem como judeus, e as “bruxas”, na época, fossem processados, torturados, condenados e queimados. Hoje, apenas o método mudou!!

Mesmo ensinando o ser, ser sexo, no trâmite histórico, o sexo passou a ser vergonha, algo proibido. O filósofo Foucault, já afirmava que o sexo fora amordaçado dos assuntos familiares e demais contextos, porém simultaneamente, dele se mencionava, pelo simples fato de dele não se falar, mas se pensar.

O Ser é sexual, por ser ensinado a ser somente assim. A humanidade vive, em diferentes formas, de sexo. Quer seja para reprodução querida ou impensada, quer seja pelo prazer individual que ele proporciona. A sexualidade se tornou uma ferramenta eficaz, para nos tornarmos jumentos existenciais subservientes.

Agora, pense. Diante destes poucos, mas consistentes dados, no sexo propriamente dito, existe atividade sexual? Não. Existe educação sexual. Você deve transar “assim”; beijar “assim”; Somos livres? Não. Temos apenas opções, mas poderíamos existir, se quiséssemos... Todos possuem os mesmos direitos? Óbvio, que não. Muitos são ainda condenados pela sua orientação sexual e/ou por sua prática.

Portanto, somos adestrados, não só, mas também e principalmente sexualmente. E ainda inventam uma “Declaração dos Direitos Sexuais”, por eles não serem respeitados. O que adianta? Nada!! Apenas demonstra que a humanidade está perdida e assustadoramente confusa, não sabendo o que fazer com seu poder de Ser e Existir.

A sociedade permite e proíbe as mesmas sentenças; exige determinados comportamentos (sexuais) e afirma uma “falsa” liberdade. O que pensar? Simples, que todos, há séculos passamos a ser fantoches; e o hilário: de nós mesmos.



quarta-feira, 11 de março de 2009

Sofrer. Amar e ser Amado

Marry Me (Michelle Lehman)


Assistindo ao curta-metragem acima, nota-se um lindo amor; mas também um sofrimento. Um típico amor educado, ensinado, instituído, mas dificilmente inventado.

O filósofo grego Platão já nos ensinava em 347 a.C., que o amor é um jogo de interesse. O que as pessoas buscam é conquistar. Lembra-se daquela bonequinha ou daquele carrinho de brinquedo que você tanto pedia para seus pais? Pois é, quando você ganhou, você ficou quanto tempo a mais com ele, até querer ofegantemente outro objeto? Acredito que não muito tempo. Da mesma forma é o amor instituído. Cada um tem um desejo de adquirir, apenas. Quando esse desejo é constantemente renovado, ou seja, inventado, as pessoas, casadas, podem chegar às bodas de diamante; pois se elas inventam, elas criam o seu amor e dele cuidam.

No filme, a Gorotinha tenta incansavelmente ser o objeto do Garotinho que apenas tem olhos para sua bicicleta. E, por isso, constantemente, entre a esperança e a temporalidade ela sofre.

Mas, enfim, quem nunca sentiu uma solidão; uma sensação de que falta alguém: para conversar, para olhar, tocar, amar. O ser humano busca a felicidade e muitos acreditam que ela está no amor. Essa foi a receita ensinada desde o nosso nascimento.

Porém, alguém já experienciou aceitar sua solidão? Por que é tão difícil ser só? O ser humano sofre com a solidão, pelo simples fato de fugir dela. Como escrevi no artigo “O Interesse Humano”, nós somos sozinhos, e, aceitar a solidão, nos permite conquistar outras coisas, outros objetos, ou até mesmo um verdadeiro amor inventado.

Assim, a conscientização desde fato, nos permitiria amar com fibra. Tudo o que você precisa está em você. Por que viver em busca de um amor? Um alguém amado, apenas enriqueceria. Todavia, se você não se sente, não sabe quem é, de nada adianta ter alguém para se enamorar. Se você não aceita sua solidão, jamais terá alguém para amar. Pois a falta irá lhe perseguir, simplesmente por estar em você.

Se você quer sentir o amor inventado, reconheça sua solidão; aceite-se. Seja pró-ativo, pois todos podem, de alguma forma, Ser e Existir. Sempre há possibilidades.

Em “Cultura e Desamparo”, M. L. Lemos, afirma:


“Inúmeras são as maneiras encontradas, através do imaginário na cultura, para a elaboração das questões existenciais. Lembremos que sujeito e cultura estão atrelados: tanto o sujeito fala através da cultura como vice-versa. São muitas as formas, as possibilidades de o sujeito se haver com o seu desamparo, bem como com o seu desejo, mediante as identificações. Porém, com as possibilidades identificatórias esmaecidas, nos nossos dias, ele vai em busca de novos recursos identificatórios” (2005, p. 17).


Porém, a identificação primeira estará sempre em você. Como a garotinha no filme, voe, ultrapasse seus medos. Seja você. Só assim você existirá, poderá ser visto e conseguirá usufruir do amor inventado, se for o caso.

Pois, quando você se conscientiza de que você é você e o outro é o outro, e, caso algum dia vocês se encontrem, será um lindo amor inventado. Caso contrário, se não se encontrarem, e daí? Tudo o que precisa está em você!! Você é seu cuidador, inventor, criador...

Mas, se quiser continuar fugindo, com o drama do ninguém me ama, adoraria cavar-lhe uma cova. Pois é isso que lhe restará: a pseudo-solidão de si, do e no mundo.


quarta-feira, 4 de março de 2009

O Dia Internacional do Comércio Feminino

Uma vez eu li sobre o Dia da Mulher: “Dei para minha esposa uma cesta de café da manhã, e ela está toda feliz!!”

Com certeza. Todo ano é a mesma procissão financeira. Há semanas se iniciaram a caça ao público pelos subservientes da propaganda. É “O Dia Internacional do Comércio Feminino”. Rosas colombianas, livros, bombons, Brunch Venice, cestas de café da manhã, coração em pelúcia com mãos, pelúcias em geral, viagens, (mais um) aparelho de ginástica, dia num Spa, vale-presentes, ou quem sabe uma havaiana, um vale-refeição e até mesmo o Syrah 2005 (melhor vinho tinto do mundo, escolhido numa prova cega realizada em Paris, em 2008). Há de tudo no mercado. Não é qualquer comércio, mas é o internacional. E coitado de quem não presenteia. Ela fica um mês mal-humorada e não sabe o porquê, mas transcorrido o mês, sabe porque não está mais: em breve é o Dia das Mães. Que sina.

As mulheres nunca foram aceitas totalmente pela sociedade. Há memoráveis e escriturários tempos elas são consideradas de categoria subordinada.

A idéia (para alguns a certeza) de que as mulheres são inferiores aos homens, advém, além da Bíblia Sagrada, da antiguidade que já declarava que elas eram de menos-valia, pois possuíam, de acordo com a época, um sexo neutro. O sêmen (semente) era o símbolo da vida, portanto, apenas os homens eram os detentores da fertilização e do conhecimento. Logo, mulheres deviam obediência.

Com o transcorrer do tempo, pouco mudou. Mas é claro que diferenças existem, senão não precisaríamos de duas terminologias. Homem é homem. Mulher é mulher. Todavia eles vivem num mesmo patamar. O que os homens não têm, as mulheres possuem e vice-versa. Porém, isso não quer dizer que eles se completem.

O aclamado “Dia Internacional da Mulher”, antes de se tornar um comércio ou uma 25 de Março Paulista, era uma homenagem a mulheres trabalhadoras, lutadoras e ativas.

Eis, então, a história, para que você, mulher desmemoriada, se lembre e, se não conhece que passe a entender.

No Dia 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, situada na cidade norte-americana de Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de ofício para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas/dia); equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de serviço) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. A manifestação foi reprimida com total violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano. Porém, somente no ano de 1910, durante uma conferência na Dinamarca, ficou decidido que o 8 de março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem as mulheres que morreram na fábrica em 1857. Mas somente no ano de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas).

Espero que você reflita se ainda deseja receber um presente. Ainda mais você que é violentada 364 dias no ano e tem 1 (uma) noite romântica por ano, pelo simples fato deste dia internacional, aparentemente, ser seu. O dia é seu ou é internacional? Ops, vamos deixar quieto. Sem reflexão hoje, não é mesmo?! É um dia de festa.

Nesta data você recebe, classicamente, flores e homenagens diversas. E, 130 mulheres receberam opressão e queimaduras mortais. Talvez esse dia, não seja o de receber flores, parabéns ou qualquer outro mimo mercantil, mas sim, uma passeata ao anoitecer com todos – homens, mulheres, crianças, o cachorro, o papagaio... e velas, que iluminem o ato de memoráveis tecelãs e simbolize também o ato de conscientização para que ainda contribua com Direitos Humanos reais, e não apenas uma Declaração Universal de tais direitos.

Mas, para quê não é?! Você está cansada, amanhã tem que acordar cedo e trabalhar 16 horas (8 horas fora e 8 horas em casa). É melhor e cômodo ficar com o presente. Todavia, fazendo isso, hoje, você contribui para ser vendida, continuando a ser objeto. Não mais de muitos homens, mas a nova “tecelã” do mercado financeiro.
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