terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Humanos Deprimidos e Seus Registros Existenciais

Em nossa sociedade muitas pessoas devem estar cientes que no presente se vive na Era da Informação. Ela se destacou após a industrialização, a partir dos avanços tecnológicos, sendo mais notada na década de 1980, passando a se multiplicar como uma metástase. Nisto, no atual século XXI, a informação é um imperador que traz impactos profundos, destruindo (e reconstruindo) a forma de se existir.

Ao mencionar o termo Sociedade, é significativo evidenciar que ela não é um ser próprio, e sim, constituído por um agrupamento de pessoas. Por isso, as informações e as situações existentes hoje e outrora produzidas, são de autoria humana. Entretanto, atualmente, dotadas de demasiadas informações, as pessoas se tornaram confusas em suas ações e escravas do tempo, eximindo-se da criação de uma habilidade de reflexão sobre suas atitudes.

Virtual e real se fundiram, confundindo quem os criou. As pessoas atuam na sociedade sem o compromisso consigo mesmas; isentam-se da compreensão de sua identidade e de seu papel social, confiando, intencionalmente ou não, que um Avatar pode lhes representar em todos os âmbitos.

Com esta compreensão, as pessoas encontram-se ausentes de contato, na função Standby. Elas que constroem a sociedade, se confundem em suas próprias criações e pensam que estão deprimidas. Na realidade, em muitas situações, este sentimento é apenas consequência de ações não compreendidas; isto é, ações habituais, excessivas e ininterruptas.

Para representar como as pessoas estão ausentes de consciência de seu comportamento e de suas ações, Caprica, uma produção cinematográfica, representativamente, evidencia em sua trama, a quantidade de registros existenciais que são desenvolvidos e a intensidade de informações pessoais que se acumulam, e raramente se percebe; são informações que se entendidas poderiam auxiliar seus criadores em sua vida diária, pois eles teriam o equilíbrio de suas próprias práticas.

A obra apresenta que o cérebro humano contém cerca de 300 megabytes de informações, mas isso não seria suficiente para compreender as pessoas. A questão seria não como armazenar essas informações, mas a forma de acessá-las. Não se poderia baixar uma personalidade, porque não existe um modo de traduzir os dados; mas as informações cerebrais estão disponíveis em outros bancos de dados. As pessoas deixam muitas digitais ao longo da vida: exames médicos, DNA, avaliação psicológica, registros escolares, e-mails, gravações de áudio e vídeo, câmeras de vigilância, compras no shopping, jogos, multas de trânsito, contas de restaurante, registros telefônicos, músicas preferidas, ingressos de cinema, programas de TV, agendas, SMS, perfis na web, prescrição de contraceptivos, entre outros.

A alta tecnologia e seus avanços ofereceram muitas oportunidades para os humanos se manifestarem e se apresentarem aos outros na sociedade, todavia a forma como são utilizas podem representar mil e uma consequências – para você e para todos que convivem contigo.

Nesse sentido, o congestionamento de informações criadas pelos humanos, os deixam 24 horas por dia sem sinal, distraídos em relação a si mesmos e aos que os rodeiam; portanto, não deprimidos, e sim, distraídos. E, transitar da função Standby para Power, é aprender a perceber seus atos e praticar mais ações criativas e conscientes, e menos as reprodutivas advindas pelo hábito.


*Artigo publicado originalmente no Jornal Tribuna Regional, 15 jan. 2011.


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