quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Adolescências Em (Tua) Ausência

A literatura, felizmente, não é unânime nem genérica em afirmar que a adolescência é um período emocionalmente crítico do desenvolvimento humano. Felizmente, pois neste desenvolver existe muito potencial que não é semeado e cultivado. Perceba que constantemente pessoas insistem em apontar e ampliar as situações socionegativas e não as sociopositivas; observe que muitas olvidam que o Outro é outra pessoa que se constitui biopsicossocialmente e possui sentimentos e racionalidade ímpares.

Nisto, insistentemente, adultos – se é que ainda existe essa classe de desenvolvimento –, afirmam que prefeririam seus filhos como quando bebês. Posto que, indagados pelos motivos, muitos declaram que naquele momento infantil poderiam segurá-los nos braços, alimentar e cuidar. Temporalmente, no entanto, acompanhando esta ideia, os bebês se desenvolvem e crescem; e, crescidos, vivem uma adolescência em ausência: de respeito, compreensão e instrução (pelos seus genitores). Desenvolvendo-se, aquele, outrora bebê, age (in)dependentemente tanto em movimento quanto em pensamento. E é exatamente isto, a falta de enquadramento e domínio, não saber onde ele está ou o que ele pensa é que perturba o grown up.

Nesse sentido, frisa-se que o Outro, desde sua emersão no mundo, continua a ser outro, que apesar de constantemente ser manipulado, ainda possui sua singularidade, que atualmente é ignorada, e, às vezes, levada ao esquecimento.

As situações conflitantes entre adolescentes e adultos poderiam ser amenizadas se fosse estabelecida uma conectividade segura através do par relação-comunicação. Porém, as pessoas mal se relacionam e ruim se comunicam, logo não aprenderam a conectá-los, já que há um imperativo na incompreensão por juízos (sociais) constantes. Adultos, muitas vezes ideologizados, sufocam sua imparidade, sua identidade e viram peças de um tabuleiro de xadrez, asfixiando a singularidade da Outra chegando a um xeque-mate dos comportamentos humanos.

Representando minimamente a situação, Davy and Stu (2006) é uma curta filmagem baseada na peça de teatro premiada, de Anton Dudley. Com um cenário ao pôr-do-sol, e uma paisagem escocesa, a película é um estudo sobre personagens e seus comportamentos distintos, sendo em parte uma história de amor com um olhar avassalador sobre a intensidade do romance entre os protagonistas adolescentes; um amor impostamente proibido pela sociedade, o que ocasionam sutis e isolados encontros num pântano. Na história, o mais importante está no que não é dito. Está na ausência daqueles adultos que não podem ver uma adolescência entre várias adolescências, por não (lhes serem permitido) compreender o Outro, e na invisibilidade dos personagens diante da sociedade. A obra de Dudley é também um memorando para evidenciar que as pessoas são distintas e que, como na gramática, pessoa é cada uma das diversas formas que assume o verbo na sua conjugação para expressar quem fala, aquele a quem se fala e aquele de quem se fala, isto é, personas que se comunicam e se relacionam.

Este quem fala, a quem se fala e de quem se fala, no presente, está fragmentado. Nisto, conflitos socionegativos podem ser encontrados em todos os momentos do desenvolvimento humano. Deste modo, pensando no Ser-no-mundo, o corpo é um instrumento de ação que não deveria ser silenciado, mas educado com conhecimento; e isto somente é possível quando se reconhece a unidade do Outro, podendo assim a adolescência, aqui em específico, se tornar uma presença em cultivo de outros unos e não uma invisibilidade, pela ignorância. Em tal grau, Davy argumenta esta sensação à Stu: “você não necessita de privacidade na cidade. Ninguém se importa. Pode ficar no meio da rua... parado e ser praticamente invisível. [...] na cidade... há outras coisas para [as pessoas] se preocuparem. A sua própria vida”.

Contudo, no momento, ainda é a ausência a soberana: a tua e a invisibilidade do Outro; e, sobre o ser-ausente no mundo e a lacuna existente do eu para nós, a personagem-psiquiatra, Dra. Maureen Brennan na produção cinematográfica America (2009), nos evidencia parcialmente os resultados, questiona-nos e nos explica: “crianças, vivendo nas ruas. Já conversou com alguma delas? A maioria sofreu abuso em seus lares, frequentemente por seus pais, que deveriam protegê-las, mas não o fazem. Não há paz dentro destas crianças. A dor é o caminho mais rápido para o prazer, e elas acabam se ferindo apenas para sentirem algo, qualquer coisa. Agora temos várias gerações que foram criadas assim e depois perdem seus filhos para um sistema de lares adotivos que não funciona. Crianças que vivem confusas, traídas, raivosas, mas ainda ansiando por um lar, por uma família, por amor”. E para nos atualizar, a obra conclui: “há mais de meio milhão de crianças em lares adotivos na América. Quando elas fazem 18 anos e, pela idade, não fazem mais parte do sistema, apenas duas em dez conseguem. As demais terminam nas ruas, na prisão ou mortas”. Eis nesta prosa, portanto, uma balada musical.




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