segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A Psicoterapia das Políticas Públicas

Política Pública é um conceito usualmente da Política e da Administração designando uma orientação para tomada de decisões que podem ser para assuntos públicos, políticos ou coletivos.

Definindo, pode-se entender por Políticas Públicas, a compreensão de Guareschi et. al. (2004, p. 180) em “Problematizando as Práticas Psicológicas no Modo de Entender a Violência”, como


o conjunto de ações coletivas voltadas para a garantia dos direitos sociais, configurando um compromisso público que visa dar conta de determinada demanda, em diversas áreas. Expressa a transformação daquilo que é do âmbito privado em ações coletivas no espaço público (In: Strey; Azambuja; Jaeger (orgs.) “Violência, Gênero e Políticas Públicas”).


No entanto, existem divergências entre políticas públicas e decisões políticas. Nem toda decisão política chega a ser uma política pública. A decisão política é uma escolha entre várias alternativas, já a política pública, que engloba também a decisão política, é compreendida como uma práxis e está direcionada a questões emancipatórias ao direito e à satisfação das necessidades básicas, como emprego, educação, saúde, habitação, acesso à terra, meio ambiente, entre outros.

Porém, como nos ensina Tassara (2004, passim) em “Avaliação de Projetos Sociais: uma alternativa política de inclusão?”, esta afirma que:


[...] quando se inicia o desenvolvimento de um projeto social, antes de qualquer coisa, é preciso definir quem é esse sujeito, que deverá vir a ser ‘igual do igual’, que se pretende atingir. Se o objetivo desse projeto, por exemplo, for a inclusão de excluídos e a definição de quem são, e porque são, os sujeitos dessa exclusão não estão claros, ou parte-se de um modelo de desejabilidade cuja delimitação não está bem configurada, não ficará claro também o que deve ser avaliado. [...] Tem-se também, que definir: o que é bom? O que é desejado? O que vai ser transformado? Quem ou o que precisa ser objeto de uma intervenção social para se transformar, passar de uma condição a outra? E, para tanto, é preciso priorizar alguns critérios em detrimento de outros. [...] Em geral, tais projetos aspiram a inclusão de alguma coisa ou de algum grupo em um quadro de desejabilidade. Mas não se pode deixar de perguntar: por que o excluído incomoda? A quem ele incomoda? Se, por um lado, professa-se valores da justiça social, considera-se valores intrínsecos à Declaração Universal dos Direitos do Homem como válidos para todos, e considera-se o direito de ‘ser’ como o direito público fundamental, independentemente de quais crenças ou hábitos signifique; por outro, busca-se a inclusão. [...] As políticas públicas deveriam incentivar a inclusão, mas isso não acontece porque as políticas públicas não estão voltadas para a redução das desigualdades territoriais de desenvolvimento existentes em nossa sociedade (In: Souza; Trindade (orgs.) “Violência e Exclusão: convivendo com paradoxos”).


Na atualidade, diante dos fatos sociais e literários, são de questões relevantes o modo em que vive o ser humano na sociedade; e o fato de que até mesmo antes da declaração dos direitos do homem, já havia preocupações com a coletividade.

Isso nos permite refletir para um efetivo praticar, bem como para visualizar a moda que é o surgimento do termo Políticas Públicas no âmbito da Psicologia, por exemplo. Na Academia, para cada intervalo de vírgulas existe esta expressão. No meu acompanhamento, o termo apenas adveio oferecendo as sensações de esperança e um trocar de termos: de desgastados, por outros, expressivos; pois quando as pessoas se referem às Políticas Públicas, sinto muita energia e encantamento, mas nenhum modificar que já não vinha em andamento. Aparentemente nada se modificou para um melhorar das pessoas. Os profissionais continuam com os mesmos projetos psicológicos, baseados na reprodução dos mesmos autores, com a mesma retórica estando apenas com um novo termo teórico: Políticas Públicas.

Ainda hoje é bonito nela falar, pois indica que se está informado, atualizado. Todavia, depois de alguns anos, ficou clarividente que emergia nas atividades psicoterapêuticas um vocábulo sofrível e não uma nova práxis, pois atualmente quem necessita de psicoterapia (e não é atendida) são as ditas Políticas Públicas que são molestadas e fadigamente torturadas pelo extensivo trabalho que lhe designaram: o de substituir Pinky and the Brain, e realmente tentar conquistar o mundo, em palavras claras, pela dominação e devoção, tornando tudo coletivo sem metodologias adequadas bem como ausência de reflexões sobre as conseqüências; portanto, divulgando uma mensagem hitleriana e para quem sabe num porvir convocar as massas para executar tal determinação.



segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Pincéis, Tinta e um Toque de Consciência

Dia da Consciência Negra. Apenas algumas e relevantes palavras.

Esta data foi estabelecida pelo Projeto-Lei n. 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003. Foi escolhida a data de 20 de novembro, pois foi neste dia, no ano de 1695, que faleceu Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares.

Os quilombos representavam, teoricamente, uma resistência ao sistema escravista e também um forma coletiva de manutenção da cultura africana aqui no Brasil. Historicamente, Zumbi lutou até a morte por esta cultura e pela liberdade do seu povo.

Transmite-se a idéia de que a homenagem a Zumbi foi mais do que justa, pois este personagem histórico representou a luta do negro contra a escravidão, no período do Brasil Colonial. Ele morreu em combate, defendendo seu povo e sua comunidade. Porém, apesar das várias dúvidas levantadas quanto ao caráter de Zumbi, nos últimos anos, comprovou-se, por exemplo, que ele mantinha escravos particulares.

Pensa-se que a criação desta data foi importante, também, pois serve como um momento de conscientização e reflexão sobre a importância da cultura e do povo africano na formação da cultura nacional. Porém, possuo dúvidas se seria um dia de reflexão. Notemos: Dia de reflexão-prática, ou churrasco, festa particular, rave? Não precisa responder. Entendo!

Claro que sua atitude festiva não impede o reconhecimento de que os negros africanos colaboraram muito durante nossa história, nos aspectos políticos, sociais, gastronômicos e religiosos de nosso país. É um dia, com qualquer outro, que devemos praticar em ações, onde quer que estejamos: nas escolas, nos espaços culturais entre outros de sua escolha cotidiana, valorizando a cultura afro-brasileira.

Sabe-se, que a abolição da escravatura, de forma oficial, só veio em 1888. Porém, os negros, nem todos, sempre resistiram e lutaram contra a opressão e as injustiças advindas da escravidão, como hoje.

Vale mencionar também que sempre ocorreu uma valorização dos personagens históricos de cor branca. Como se a história do Brasil, ou mundial, tivesse sido construída somente pelos europeus e seus descendentes. Imperadores, navegadores, bandeirantes, líderes militares entre outros foram sempre considerados heróis nacionais. Mas quem esteve junto? A humanidade e seus tons! Agora temos a valorização de um líder negro, em um dia oficial, em nossa história; os outros dias representam uma consciência branca?

Isso é um pouco, teórica e historicamente a trajetória do racismo, mas você deve ter observado que nem precisa muito se falar, pois muito racismo já se celebra no Dia da CONSCIÊNCIA NEGRA!

E, para finalizar, apenas tenho uma dúvida: “Desde quando a consciência tem cor?” Teoricamente há um reconhecimento, porém com uma prática ainda não criada. Eita, pré-conceito manchado e encardido difícil de sair, hein!



sábado, 7 de novembro de 2009

Sexo: Uma Profunda Necessidade de Comunicação

A Comunicação humana é um processo que envolve a troca de informações, e utiliza os sistemas simbólicos como suporte para este fim. Está envolvida neste processo uma infinidade de maneiras de se comunicar: verbal, visual e gestual; presencial e virtual.

Usando-se da comunicação existente, consideravelmente você julga pessoas ou as ouve sendo condenadas pelos outros por algum de seus atos tidos como abomináveis e incomuns. Às vezes pode ser você que tenha rótulos. Todavia uns comem ovo frito com a gema cozida, e outros apenas inteiramente cozidos. São raras as pessoas que estudam as classificações; estas nos impedem, muitas vezes, de conhecer a complexidade de fatos e pessoas de forma honesta e compreensiva.

Deferenciando fatos, em 2006, foi lançado o filme Shortbus. O público não educado para o diferente, possuindo em si uma fragilidade emocional ficou espantado, visto que a trama evidencia e mostra o sexo de diversas formas e fases. No filme, há uma terapeuta de casais, casada, que nunca teve um orgasmo. Entre seus clientes estão um casal homossexual masculino, que mantém uma relação que começa a prejudicar emocionalmente a ambos. Há ainda uma Dominatrix em práticas do BDSM (Bondage, Disciplina, Sadismo e Masoquismo), ou seja, sem contato sexual, e que mantém sua vida em segredo e não se abre para as pessoas. Todos se encontram regularmente no Shortbus, um clube underground onde arte, música, política e sexo se misturam.

A relação sexual humana é uma comunicação, ou pelo menos as pessoas deveriam entender isso e ouvir o que ela tem a dizer, até mesmo para os não praticantes. Primeiro, na relação ocorrem atividades preliminares que são prévias ao ato sexual. As preliminares, diminuem a inibição e aumentam o conforto emocional dos parceiros e também podem levam à excitação sexual dos mesmos, resultando na ereção do pênis e na lubrificação natural e dilatação da vagina.

Em conseqüência, o ato sexual propriamente dito pode ser compreendido como todas as formas de atividade sexual e variedades de como ocorre a penetração: sexo vaginal e o sexo anal, assim como todo tipo de sexo não-penetrativo: o sexo oral que se subdivide em: cunilíngua (praticado na mulher), felação (praticado no homem) e anilíngua ou anilingus (praticado em ambos). O ato sexual permite que se alcance uma satisfação, preferencialmente mútua, ou o orgasmo. Mas, qual a mensagem?

A relação sexual tipicamente representa um poderoso papel no relacionamento humano, sendo em muitas sociedades normal aos pares terem atividades sexuais freqüentemente enquanto usam contraceptivos, como forma de compartilhar o prazer, reforçando e fortalecendo sua ligação emocional através do sexo.

Seu objetivo primordial era a reprodução e continuidade da sobrevivência da espécie humana. Atualmente ela é freqüentemente praticada por prazer e/ou como uma expressão de amor e intimidade emocional. Todavia, sendo ela também uma forma de comunicação deveria ser ouvida e não silenciada.

Falar sobre sexo é algo que poucos fazerem, pois muitos são censurados e rotulados como praticantes desenfreados. As pessoas atualmente fazem mais sexo, porém possuem menos informações sobre ele, geralmente entendendo-o como agrado e divertimento, e por conseqüência não aprendendo e não ensinando suas possibilidades de compreensão pessoais, do outro e da relação que se estabelece com outrem, seja ela duradoura ou fugaz.

Nos casos mais atuais as pessoas possuem relacionamentos passageiros, as curtições. Alguns significados dessa palavra nos revelam sua referência a desfrutar algo com intenso prazer. Mas o que faz pessoas quererem algo transitório, algo tão veloz? Shortbus aborda tal assunto. Ele não é claro em seus argumentos, mas é intensamente representativo em suas personagens. Expõe ele que as pessoas estão emocionalmente perdidas, e encontram no corpo o meio comunicativo pelo qual as pessoas podem lidar com seus sentimentos e conflitos, porém não percebem seus atos. Hoje, tudo é sexo, mas a existência, em seu pólo essencial, não se resume a relação sexual, e sim, a relação comunicacional.

Deste modo, num momento da existência social em que as pessoas são caladas, alienadas pelo consumir descomedido, praticam o sexo, comunicando-se consigo mesmas, mas não se ouvem. Na prática sexual, tentam e sentem; experimentam e se divertem; ensaiam e não possuem volúpia, e começam novamente, a praticar com outros. Todavia, gerando um nevoeiro mental, não enxergando a si mesmo e ao próximo, apenas conseguem construir uma colcha retalhada de afetos que pouco cobre e nada aquece.


domingo, 1 de novembro de 2009

O Júri da Humanidade

As pessoas geralmente esperam demasiadamente; e esperam dos outros. Expus em “A Questão Humana da Esperança” que as pessoas são esperançosas. Esperança além de uma crença emocional que visa a possibilidade de resultados positivos relacionados a eventos e circunstâncias da vida pessoal, que requer uma perseverança, isto é, acreditar que algo é possível mesmo quando há indicação do contrário. Esperança é também símbolo da mitologia romana, uma deusa, considerada a irmã do sono e ofertadora de um culto artificial para a população. Muitos tramitam vitalmente tendo que provar que são capazes e tantos outros esperam tal atitude.

As pessoas passaram a ser examinadas em todos os aspectos. Para tudo se tem a necessidade de proporcionar documentos que indiquem, em alguns casos, compreensíveis, já que possuímos um sistema jurídico (demonstrando que a sua existência é a fraqueza da população); e em outros casos, solicitam provar se você aprendeu e o que estudou. Porém, como examinar se alguns possuem excelente memória, transcrevendo ipsis litteris.



A prática escolar usualmente denominada de avaliação da aprendizagem pouco tem a ver com avaliação. Ela constitui-se muito mais de provas/exames do que de avaliação. Provas/exames têm por finalidade, no caso da aprendizagem escolar, verificar o nível de desempenho do educando em determinado conteúdo (entendendo por conteúdo o conjunto de informações, habilidades motoras, habilidades mentais, convicções, criatividade etc.) e classificá-lo em termos de aprovação/reprovação (Luckesi. “Avaliação da Aprendizagem Escolar: um ato amoroso” In: Avaliação da Aprendizagem Escolar, 2003, p. 168, grifo meu).


[...] os professores devem acreditar sinceramente nas capacidades dos seus alunos, ganhando confiança deles a partir do respeito mútuo. Tem que avaliar o aluno pelo que é, confiando nele e dando condições para que aprenda a confiar em si mesmo. Neste sentido, dado o importante papel que desempenham as expectativas dos professores para com os alunos, será preciso encontrar em todos os alunos aspectos positivos (posto que sem dúvida existem) e que as expectativas se expressem convenientemente (Zabala. “As relações interativas em sala de aula: o papel dos professores e dos alunos” In: A Prática Educativa: como ensinar, 1998, p. 95, grifo meu).


[...] não se deve esquecer que o melhor incentivo ao interesse é experimentar que se está aprendendo e que pode se aprender. A percepção de que a gente mesmo é capaz de aprender atua como requisito imprescindível para atribuir sentido a uma tarefa de aprendizagem. A maneira de ver o aluno e de avaliá-lo é essencial na manifestação do interesse por aprender. O aluno encontrará o campo seguro num clima propício para aprender significativamente, num clima em que se valorize o trabalho que se faz, com explicações que o estimulem a continuar trabalhando, num marco de relações em que predomine a aceitação e a confiança, num clima que potencializa o interesse por empreender e continuar o processo pessoal de construção do conhecimento (Ibidem, p. 96, grifo meu).


Não podemos conseguir os avanços educacionais de que precisamos a menos que façamos um investimento cada vez maior em novos métodos de educação e de aprendizagem. Ninguém pensaria hoje em acender uma fogueira esfregando dois gravetos. Todavia, grande parte do que ocorre na educação baseia-se em conceitos igualmente ultrapassados (Dryden; Vos, 1996, p. 41 apud Santos. “Da administração escolar à gestão educacional: um longo caminho de mudanças” In: O gestor educacional de uma escola em mudança, 2002, p. 21, grifo meu).


Através do diálogo, refletindo juntos sobre o que sabemos e não sabemos, podemos atuar criticamente para transformar a realidade (Freire, 1986 apud Hoffmann. “Avaliação e Construção do Conhecimento” In: Avaliação: mito e desafio: uma perspectiva construtivista, 2005, p. 21, grifo meu).



Observa-se que a avaliação está em crise. Cita-se a avaliação educacional, tendo em vista que ela é a mais conhecida e a mais utilizada, para que se possa refletir e praticar o pensado. Todavia não é apenas no âmbito educacional que se é avaliado. Todos os âmbitos são de aprendizagens e contém existências.

Nota-se pessoas que se desesperam ao serem solicitadas para se auto-avaliarem. Quando o fazem se auto-flagelam. Pensam em tudo que fizeram e na insensibilidade não reconhecem seu potencial, sua energia, e suas capacidades infinitas. Olhando para um júri, existente, e às vezes alienante, não atingem a compreensão de Giles (2003):


Cheio de confiança na vida, goza de uma posição segura e tem opiniões firmes a respeito de uma realidade bem-organizada. Séculos, talvez milênios, o distanciam das amarguras da vida; não teme que venturas semelhantes se repitam ou o que dirá a História [...] (p. 11).


O fato é que temos que oferecer liberdade e empowerment para o sentir e o pensar. Deixar de reproduzir e passarmos a CRIAR não apenas em escolas, mas em todos os recintos.

As pessoas há séculos vivem em amarras; não houve a libertação de todos os escravos, e talvez alguns nem queiram ser libertos, porém, mas não apenas, porque muitos libertadores apenas desamarram os punhos.

Objetiva-se com isso, portanto, lavorar e plantar; cuidar, colher o plantio e se alimentar. No mesmo processo, frisa-se que muitos aspectos mentais em todas as instâncias da humanidade são observáveis para a Compreensão dos mesmos ao invés de serem usados para Avaliação. Todos somos alunos e professores contínua e simultaneamente. O Dialogar fenomenológico, conjunto a isto, a TPG-Existencial, são métodos e práxis de compreensão, auxílio e amor (relação/contato) para o ser humano e sua aprendizagem.

O passado é passado; o museu o sustenta. O futuro é incerto; a pseudo-esperança o ampara; são situações, no hoje, intransitáveis, mas passíveis de leves apreensões. Agora, a arte de existir é conectar e compreender sua universalidade, criar e recriar, sendo que, apenas você pode entendê-la, usá-la e manifestá-la decidindo a sua existência neste trâmite vital: sendo libertado para expressar suas possibilidades ou condenado e aprisionado pelo Júri da Humanidade, simplesmente por Existir.


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