domingo, 1 de novembro de 2009

O Júri da Humanidade

As pessoas geralmente esperam demasiadamente; e esperam dos outros. Expus em “A Questão Humana da Esperança” que as pessoas são esperançosas. Esperança além de uma crença emocional que visa a possibilidade de resultados positivos relacionados a eventos e circunstâncias da vida pessoal, que requer uma perseverança, isto é, acreditar que algo é possível mesmo quando há indicação do contrário. Esperança é também símbolo da mitologia romana, uma deusa, considerada a irmã do sono e ofertadora de um culto artificial para a população. Muitos tramitam vitalmente tendo que provar que são capazes e tantos outros esperam tal atitude.

As pessoas passaram a ser examinadas em todos os aspectos. Para tudo se tem a necessidade de proporcionar documentos que indiquem, em alguns casos, compreensíveis, já que possuímos um sistema jurídico (demonstrando que a sua existência é a fraqueza da população); e em outros casos, solicitam provar se você aprendeu e o que estudou. Porém, como examinar se alguns possuem excelente memória, transcrevendo ipsis litteris.



A prática escolar usualmente denominada de avaliação da aprendizagem pouco tem a ver com avaliação. Ela constitui-se muito mais de provas/exames do que de avaliação. Provas/exames têm por finalidade, no caso da aprendizagem escolar, verificar o nível de desempenho do educando em determinado conteúdo (entendendo por conteúdo o conjunto de informações, habilidades motoras, habilidades mentais, convicções, criatividade etc.) e classificá-lo em termos de aprovação/reprovação (Luckesi. “Avaliação da Aprendizagem Escolar: um ato amoroso” In: Avaliação da Aprendizagem Escolar, 2003, p. 168, grifo meu).


[...] os professores devem acreditar sinceramente nas capacidades dos seus alunos, ganhando confiança deles a partir do respeito mútuo. Tem que avaliar o aluno pelo que é, confiando nele e dando condições para que aprenda a confiar em si mesmo. Neste sentido, dado o importante papel que desempenham as expectativas dos professores para com os alunos, será preciso encontrar em todos os alunos aspectos positivos (posto que sem dúvida existem) e que as expectativas se expressem convenientemente (Zabala. “As relações interativas em sala de aula: o papel dos professores e dos alunos” In: A Prática Educativa: como ensinar, 1998, p. 95, grifo meu).


[...] não se deve esquecer que o melhor incentivo ao interesse é experimentar que se está aprendendo e que pode se aprender. A percepção de que a gente mesmo é capaz de aprender atua como requisito imprescindível para atribuir sentido a uma tarefa de aprendizagem. A maneira de ver o aluno e de avaliá-lo é essencial na manifestação do interesse por aprender. O aluno encontrará o campo seguro num clima propício para aprender significativamente, num clima em que se valorize o trabalho que se faz, com explicações que o estimulem a continuar trabalhando, num marco de relações em que predomine a aceitação e a confiança, num clima que potencializa o interesse por empreender e continuar o processo pessoal de construção do conhecimento (Ibidem, p. 96, grifo meu).


Não podemos conseguir os avanços educacionais de que precisamos a menos que façamos um investimento cada vez maior em novos métodos de educação e de aprendizagem. Ninguém pensaria hoje em acender uma fogueira esfregando dois gravetos. Todavia, grande parte do que ocorre na educação baseia-se em conceitos igualmente ultrapassados (Dryden; Vos, 1996, p. 41 apud Santos. “Da administração escolar à gestão educacional: um longo caminho de mudanças” In: O gestor educacional de uma escola em mudança, 2002, p. 21, grifo meu).


Através do diálogo, refletindo juntos sobre o que sabemos e não sabemos, podemos atuar criticamente para transformar a realidade (Freire, 1986 apud Hoffmann. “Avaliação e Construção do Conhecimento” In: Avaliação: mito e desafio: uma perspectiva construtivista, 2005, p. 21, grifo meu).



Observa-se que a avaliação está em crise. Cita-se a avaliação educacional, tendo em vista que ela é a mais conhecida e a mais utilizada, para que se possa refletir e praticar o pensado. Todavia não é apenas no âmbito educacional que se é avaliado. Todos os âmbitos são de aprendizagens e contém existências.

Nota-se pessoas que se desesperam ao serem solicitadas para se auto-avaliarem. Quando o fazem se auto-flagelam. Pensam em tudo que fizeram e na insensibilidade não reconhecem seu potencial, sua energia, e suas capacidades infinitas. Olhando para um júri, existente, e às vezes alienante, não atingem a compreensão de Giles (2003):


Cheio de confiança na vida, goza de uma posição segura e tem opiniões firmes a respeito de uma realidade bem-organizada. Séculos, talvez milênios, o distanciam das amarguras da vida; não teme que venturas semelhantes se repitam ou o que dirá a História [...] (p. 11).


O fato é que temos que oferecer liberdade e empowerment para o sentir e o pensar. Deixar de reproduzir e passarmos a CRIAR não apenas em escolas, mas em todos os recintos.

As pessoas há séculos vivem em amarras; não houve a libertação de todos os escravos, e talvez alguns nem queiram ser libertos, porém, mas não apenas, porque muitos libertadores apenas desamarram os punhos.

Objetiva-se com isso, portanto, lavorar e plantar; cuidar, colher o plantio e se alimentar. No mesmo processo, frisa-se que muitos aspectos mentais em todas as instâncias da humanidade são observáveis para a Compreensão dos mesmos ao invés de serem usados para Avaliação. Todos somos alunos e professores contínua e simultaneamente. O Dialogar fenomenológico, conjunto a isto, a TPG-Existencial, são métodos e práxis de compreensão, auxílio e amor (relação/contato) para o ser humano e sua aprendizagem.

O passado é passado; o museu o sustenta. O futuro é incerto; a pseudo-esperança o ampara; são situações, no hoje, intransitáveis, mas passíveis de leves apreensões. Agora, a arte de existir é conectar e compreender sua universalidade, criar e recriar, sendo que, apenas você pode entendê-la, usá-la e manifestá-la decidindo a sua existência neste trâmite vital: sendo libertado para expressar suas possibilidades ou condenado e aprisionado pelo Júri da Humanidade, simplesmente por Existir.


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