segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Uma Prostituta Desculpa

Como vivemos em prostituições: instituída e democrática, é honrável esclarecer uma atitude corriqueira entre as pessoas e não se refere a pensar e/ou praticar sexo.

Indiscriminadamente, quem nunca ouviu ou até mesmo disse aquela célebre e perturbadora frase: “...não fique bravo(a), é brincadeira!”? A possibilidade é de serem muitas pessoas.

Brincadeira é a ação de brincar. Porém também muitos a usam para entreter e distrair. Na primeira sentença estamos nos referindo a um jogo recreativo; na segunda a uma insinuação.

O interessante é como que essa pequena frase pode ser extremamente atenuante, pois ela "sempre" é expressada quando percebemos que a outra pessoa não se sentiu agradável ao que foi proferido.

A brincadeira exposta naquela célebre frase é "sempre" para distrair e amenizar possíveis conflitos, pois quem a exprimiu a pronunciou por algum motivo. Não foi recreação! Todavia como vivemos numa sociedade eletivamente instituída e perversa, com medo o agente se sente culpado e completa a frase expressando: “Desculpa!” Isso merece um julgamento ou uma reflexão? Óbvio que a segunda. As pessoas não precisam ser penalizadas.

A segunda porque ninguém tem a necessidade democraticamente de pedir desculpa. Isso é instituidamente de má-fé. As situações que afrontam a sociedade devem ser ouvidas e esclarecidas. O dialogar deveria perpetuamente ser o recurso primordial.

Em definições, Culpa se refere à responsabilidade dada à pessoa por um ato que provocou prejuízo material, moral ou espiritual a si mesma ou a outrem. O processo culpabilizador ocorre no plano subjetivo e intersubjetivo ou objetivo.

No sentido subjetivo, a culpa é um sentimento que se apresenta à consciência quando o sujeito avalia seus atos de forma negativa, sentindo-se responsável por falhas, erros e imperfeições. Este processo é estudado pela Ética e pela Psicologia.

No sentido objetivo, ou intersubjetivo, a culpa é um atributo que um grupo aplica a um indivíduo, ao avaliar os seus atos com resultado prejudicial a outros ou a todos. O processo pelo qual se atribui a culpa a um indivíduo é discutido pela Ética, pela Sociologia e pelo Direito.

Quem emitiu quis emitir. Houve um motivo ou causas. Seu intuito foi de interesses. Se formos considerar alguém culpado, todos os envolvidos possuiriam alguma culpa.

O ser humano emitente deve ser responsável por seus atos de interesse, bem como o receptor pelos seus. Ocorre que, muitas vezes o emitente espera do receptor ou vice-versa uma atitude. Não ocorrendo o esperado, emerge a valoração de culpa que pode ter sido ensinada instituidamente por uma ultra-moralidade, pela família ideologizada ou ainda pela religião que instrui os seres a serem pecadores logo que vitalmente surgem, produzindo culpados e solicitadores de clemência para uma vida eterna.

Assim, se o ente é o único responsável pelos seus interesses, ele deve estar consciente de que não deve calar-se como quer a instituição, mas sempre refletir prévia e posteriormente sobre o que expressou, permitindo o pensar, assim como manifestou o filósofo Voltaire: “posso não concordar com tudo o que dizes, mas sempre defenderei o seu direito de dizê-las”.

Nesse sentido, antes de ecoar sua autoflagelação sintética, reflita; pois, na realidade, num ambiente onde o interesse é Amar e educar esse Amor, tudo pode ser revelado, visto que a essência será pensada e não condenada. Por isso, não existem culpados; logo não é viável o desculpar.

Por conseqüência, se algo suscitou sentimentos negativos, estes devem ser reflexionados para um ensino-aprendizagem, e com a minha prostituição democrática: Perdão!, (como afirmação e não indagação).


segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Algumas são Relações... Outras Superficiais Convivências

No tramite da existência presenciamos encontros e desencontros. Constantemente nos encontramos diante de pessoas mesmo que não a percebamos, ou seja, caso não nos importemos em ver atentamente.

Uma Relação está direcionada para vários caminhos: familiar, amorosa, educacional e até mesmo psicoterapêutica, entre outras. Pode soar estranho, todavia, existem diversas condutas psicológicas e nem todas dão atenção a pessoa ou, excluindo-se a criatividade, apenas oferecem cega e inflexivelmente o que sua metodologia generalista lhe permite.

No entanto, independente da situação relacional é importante mencionar Ruth Bebermeyer, em sua poética: “Palavras São Janelas (ou São Paredes)”, que constata o campo de relações:


“Sinto-me tão condenada por suas palavras,
Tão julgada e dispensada.
Antes de ir, preciso saber.
Foi isso que você quis dizer?
Antes que eu me levante em minha defesa,
Antes que eu fale com mágoa ou medo,
Antes que eu erga aquela muralha de palavras,
Responda: eu realmente ouvi isso?
Palavras são janelas ou são paredes.
Elas nos condenam ou nos libertam.
Quando eu falar e quando eu ouvir,
Que a luz do amor brilhe através de mim.
Há coisas que preciso dizer,
Coisas que significam muito para mim.
Se minhas palavras não forem claras,
Você me ajudará a me libertar?
Se pareci menosprezar você,
Se você sentiu que não me importei,
Tente escutar por entre minhas palavras
Os sentimentos que compartilhamos.”



Você saberá se possibilita janelas, quando seus interesses continuam, são pensados, lhe proporcionam os objetivos e independente das decisões de outrem você tem apenas sentimentos de alegria e compreensão, pois como afirmei em outro artigo: independente de sexo, sexualidade, condição social, pré-conceitos... amar é o interesse; e ainda, como Bebermeyer expõe em sua composição, de 1978, denominada “Given To”:


“Nunca me sinto mais presenteada
Do que quando você recebe algo de mim
Quando você compreende a alegria que sinto ao lhe dar algo.
E você sabe que estou dando aquilo não para fazer você ficar me devendo
Mas porque quero viver o amor que sinto por você.
Receber algo com boa vontade
Pode ser a maior entrega.
Eu nunca conseguiria separar as duas coisas
Quando você me dá algo,
Eu lhe dou meu receber.
Quando você recebe algo de mim,
Eu me sinto tão presenteada.”



Entretanto, na atualidade, estar junto relacionando-se é quase inexistente e condenar é fácil se há uma simples convivência. Assim, procure refletir sobre “as relações” que você estabelece seja em âmbito pessoal ou profissional. Pondere suas palavras, pois se elas são janelas, proporcionam o criar relacional; se são paredes, bloqueiam a visão e impedem o transitar existencial. Neste caso, tudo seria vaidade, nada mais que vaidade de uma existência subumana.


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A Situação Ocupacional do Psicólogo

Tarde de inverno. Céu turvo. A temperatura fria, mas agradável. Um vento frio acaricia meus pés. Olho para um livro histórico e psicológico. Lembro-me pela literatura como a Psicologia se tornou Imperatriz numa longa batalha científica de romance e divórcio.

Nos séculos a. C. a psique já imperava nos ensaios dos filósofos que naquele período viveram. A Psicologia, naquele momento, estudava filosoficamente, a alma; ela era instruída por questões e emoções que se embasavam no viver humano, sendo algumas questões centrais: “O que é o pensamento?” “O que é consciência?”; e a questão primordial: “quem sou?”. Aqui razão e emoção namoravam.

No decorrer histórico, com o advento supremo do cristianismo e demais religiões, estas muito contribuíram e muito utilizaram dos primórdios conhecimentos filosófico-psicológicos, sendo as personagens religiosas mais conhecidas São Tomás de Aquino, Santo Agostinho, entre outros.

Posterior a isso, denominando-se cientificismo, a razão impera levando a alma e suas sensações à senzala. O organismo, a matéria foi o objeto visível e empírico que poderia ser contestado, mas não destronado. Muitos filósofos ainda continuaram os estudos para não deixar os assuntos psíquicos serem condenados a mito. Muito contribuíram.

A Psicologia não é santa. Ela existe e há muitos anos teve interesses fundamentais para conseguir o trono de Imperatriz. No século XIX, simplesmente, com sua habilidade de observar, ouvir e compreender casou-se com a Vossa Majestade Razão, saiu da senzala e conseguiu o título de científica. Todavia, como nem todas as uniões matrimoniais arranjadas são de sucesso amoroso, se divorciaram; porém há familiares que tentam uni-los (ou pelo menos, transmitir a seus descendentes, a afetuosidade existente na intersecção Razão e Emoção). Contudo, uma vez, sempre Imperatriz.

Durante o matrimônio, a Psicologia era calada e emotiva, se utilizava do modelo médico e orgânico utilizado pelas razões em ética, conduta e em relação ao acolhimento, até que planejou e utilizou seu poder, sua criatividade, pois poderia ser mais sensível, da mesma forma quando conquistou o imperador.


Caracteristicamente, a maioria dos ‘tratamentos’ psicológicos sublinha a importância de que o ‘paciente’ assuma um papel ativo no seu tratamento e no estabelecimento de uma relação cooperativa, ao contrário do papel mais passivo que os ‘pacientes’ assumem no sistema médico (Andrade. In Angerami-Camon, 2002, p. 118, grifo meu).


Atualmente a Psicologia, Imperatriz em status científico, se encontra com mais de 125 anos. Está idosa, porém cada vez mais experiente. O Imperador Razão, uma múmia ambulante, às vezes se esquece de alguns assuntos significativos (como a emoção e uma conduta humanizada), e está mais preocupado com o orgânico. O medicamento o guia.

É fato que ambos se divorciaram por um simples motivo: a falta de diálogo. Ambos poderiam se auxiliar, mas não foi por falta de tentativas. A Psicologia tentava conversar, mas a Ciência Orgânica sempre ficava de pensar; ingeria Benzodiazepínicos e...

Sempre ouvi de familiares e companheiros de atividades que não sabem como uma Conversa – ética e profissional – pode lhe auxiliar. Mas um medicamento, uma composição que aparenta ser mágica, rapidamente ingerida, saberia o que fazer. Esse é um raciocínio que não ouve, não percebe, não sente e também não consegue falar. Assim caminham, com química no sistema sanguíneo, significativos humanos. É notável que este pensamento se encontra cristalizado, mas não impossibilitado de ter uma outra conduta.

Com esse pré-conceito da humanidade, não sei por quanto tempo a ciência psicológica vai viver. Apenas sei, que em minha prática ela irá existir em cada palavra de mim emergida. A idade a faz ser tão madura e experiente, podendo em grandeza amparar. No entanto, as pessoas insistem que Conversar não resolve. A psicologia não é sua amiga, geralmente não é gratuita, mas ela é junto com outras abordagens e com seus vieses uma fonte inesgotável de produção de oxigênio; um medicamento natural.

Por isso, cabe lembrar Angerami-Camon refletindo sobre Merleau-Ponty:


Merleau-Ponty coloca que na verdade sabemos aquilo que a interrogação pura não deve ser; o que será só o saberemos tentando. O encontro é indubitável, pois sem ele não nos proporíamos nenhuma questão. Não temos que interpretá-lo, de entrada, seja como uma inclusão naquilo que existe, seja como conclusão daquilo que é em nós (2002, p. 50, grifo meu).


Nesse momento, cabe às pessoas compreenderem a importância desse profissional e a nós, profissionais, possibilitar uma Relação de auxílio e suporte no sentido de reestruturar o equilíbrio biopsicossocial de nossa profissão, não para que esta viva, mas para que ela continue Existindo.

Assim, possibilitar uma relação de olhar o outro, ouvi-lo e auxiliá-lo numa conversa metodológica, é extremamente importante e sabemos que isso é possível.

É uma possibilidade, da mesma forma que uma pequena semente, se cuidada e atendida em suas necessidades, poder crescer e criar galhos, folhas e até mesmo frutos; que pode, num inverno, por um momento, parecer sem existência, mas logo ser empiricamente visível seu Ser. Assim, também é o Ente.

A existência do ser humano é registrada e marcada por momentos contraditórios. O ser pode se alegrar e se entristecer; pode causar ruína, mas também pode criativamente construir.


quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O Fim Erra Tudo

Há anos ouço, e leio afirmações de que a “morte” é o fim de tudo. Que todos estão destinados a “morrer”.

Numa visão religiosa, a “morte” é o fim de uma vida terrena, para o início de uma vida, digamos, celestial; uma vida de glórias.

As pessoas que sempre me querem “matar” e as que querem me salvar, já ouviram minha idosa dedução existencial: “Eu não nasci, logo não morrerei!”

Declaradamente, muitos não entendem a que me refiro. Não ouso fazer julgamentos sobre isso, mas compreendo a incompreensão e o desconforto, pois é como se O Nada existisse.

Para poder entender, o Ser precisa ter uma noção básica sobre o Desenvolvimento. A noção é: o desenvolvimento é permeado por interesses e influências. Saber disso é deixar a pobreza psíquica e viver a felicidade em cada movimento.

Ao mencionar “desenvolvimento”, pressupõe-se o movimento; e deste a existência. O ser não nasceu, mas emergiu no instante do universo. A origem deste, não é discutível, visto que não se debate por que um filme se inicia no zero segundo. Houve um interesse, e não de quem ou do quê; simplesmente houve um interesse.

Simultaneamente, do movimento se foi criando emergências que se desenharam as existências. Tudo o que se emergiu adveio de interesses, e estes influenciados. Assim, somos o Universo.

Neste instante, sinto em você, meu amado leitor, uma incompreensão. Todavia, com gozo dar-lhe-ei um memorando atual.

Num movimento sexual entre dois seres existenciais que tinham interesses em uma simbiose carnal fazia tempos, que foram influenciados, digamos pela mídia e por amigos que os pressionavam, emergiu uma existência, que é Você!

Durante a existência suja (que é a vida) deles, houveram interesses e influências para que você pudesse emergir, no instante apropriado. Você é influenciado a emergir desde o movimento do universo, todavia só emergiu de fato, em seu momento.

Talvez você pense em determinismo. Sim, é. Porém aqui, é um determinismo flexível, pois se a pessoa (homem ou mulher) que lhe carregava, na possibilidade, tivesse escorregado e rolado por uma escada, com poucos degraus, mas ainda uma escada, digamos que você não estaria vivo, mas ainda existiria.

Não estaria vivo, pois estar vivo é apenas transitar. Mas ainda existiria, porque Existir é atemporal. Haveria um túmulo para você e/ou ainda um papel com seus registros de obituário; cartas de um familiar que ansiava pelos preparativos do “nascimento”, mas acima de tudo, você existiria na memória de muitos que aguardavam lhe segurar.

Quando as pessoas se aposentam vitalmente, elas não morrem, mas continuam a existir em cada um de nós. Existem num rabisco de escola, num ato de auxílio dedicado a alguém, num sonho, num beijo realizado... enfim, suas marcas de influência, seu contato são passos que mantém a sua existência.

Você aprendeu e sentiu muitas coisas, mas talvez não se importou com elas. Você aprendeu a caminhar, a andar de bicicleta, a escrever, a ler, a amarrar o tênis, a beijar... Você entendeu que as folhas balançam porque o vento as tocam... Você percebeu que um vento frio lhe tocou e gelou a pele... Você sentiu que a dor faz de seus olhos lágrimas surgirem... e nesse movimento existencial de interesses e influências constantes, você também ensinou/influenciou muitas pessoas! Você ensinou um filho inventado a caminhar, a andar de bicicleta, a escrever, a ler, a amarrar o tênis, a dançar... Você o auxiliou a entender que as folhas balançam porque o vento as tocam... Você o ajudou a perceber que se um vento frio lhe toca a pele, ele a gela... Você o promoveu a sentir que a dor faz com que de seus olhos lágrimas surjam, mas que um abraço pode confortar... Eu, Você... Nós, juntos, para sempre, é possível!

Por isso, entenda os versos do poeta inglês John Donne:


Morte,
Não seja orgulhosa,
Ainda que poderosa e terrível te possam chamar,
Pois tal não será.

Os que pensa ter deixado para trás,
Esses não morreram,
Pobre morte,
Nem a mim pode levar.

É escrava do destino,
Do acaso,
De reis e da insensatez.

Entre veneno,
Guerra e doença te vejo proliferar.

Se há papoula ou encantos,
Bom sono nos pode proporcionar
E até melhor do que o teu golpe,
Então por que toda essa altivez?

Após um breve sono,
Acordamos eternamente.
E a morte deixará de existir.
Morte,
Você também morrerá.



Você sempre existirá, não apenas como matéria, mas maravilhosa e criativamente em tudo que tocar, como se representasse o papel de uma peça histórica de um museu, que continuará ensinando a muitos. Por isso, exista e aprenda dia-a-dia a criar o seu Amor Inventado e ensine os outros a AMAR.

Porém, hoje infelizmente, muitos se preocupam com um fim, equivocando-se ao procurar um início, perdendo o trâmite das Existências.


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...