quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A Infância e a Cegueira

A infância é fétida. Não pela sua condição de ser infância, mas, hoje, pelo seu modo de atuação.

John Betjeman, poeta inglês, escreveu: “A infância é medida pelos sons e cheiros e paisagens, antes da hora escura que a razão cresce”.

Isso acontece, não pelo fato de com o desenvolver humano a razão passe a ser a comandante, mas por ela ser adestrada a enforcar a sensibilidade humana, que se vê em cada olhar de um infante.

Durante a puerilidade, ou em qualquer outra etapa do desenvolvimento, o sujeito deveria ter seus direitos e suas prioridades. E isto é: a capacidade de explorar seus sentidos.

Mas, enquanto crescem, seres superiores, observam e decidem se os “ingênuos” estão quase prontas para o abate. Dizem: “Está na hora de parar de fantasiar e ver os fatos!!” O historiador Philippe Áries, expõe que até o século XVII as crianças eram consideradas como adultos em miniatura.

Sentindo-me como uma criança, penso: “Não entendo? Por que tenho que parar de fantasiar, de criar histórias, de me aventurar e de explorar, meu mundo e meu pensamento?”

Por que pensar que numa infância estas crianças não pensam? Ah, não refletem como o discriminado na cartilha!! Será que as crianças não entendem, ou possuem uma outra forma de observar o mundo, porém chegando a mesma sentença?

É maravilhoso elas conhecerem o mundo, através das visões de pais, educadores e sociedade em geral. Mas para isso precisam perder o sentir, a atitude de brincar?

Talvez você, amado e cego leitor, afirme: “Não, não há necessidade, e eu não contribuo para isso!!”. Será que não contribui. Nossos atos são mínimos, e, se uma criança que pode utilizar uma janela como uma porta, muito pode entender. E, entende!! Entende mais que você, por que ela explora; seu medo é seu aliado.

Suas perguntas são singelas, com a inocência do querer conhecer, sem a vergonha de declarar o não-saber.

Mas, a infância passa de fétida a podre, quando muitos a tratam com extensiva bajulação e regras. Todos querem pegar. Chamam de coisinha linda, ou até mesmo as apertando deixando hematomas psíquicos. Todos bajulam e fazem palpites; como o fazem!! Porém, quando crescem, os únicos responsáveis eram os pais. Hilário!!

As crianças são maltratadas e espancadas por você, tendo forçadamente que crescer, onde pensam os educadores que a sensibilidade de um cheiro, de um som ou o apreciar de uma paisagem tem que ser substituído pela razão.

Piaget – entre outros – difundiu as fases que tantos idiotas insistem em seguir como regra. O que ele fez foi apenas um estudo “in loco” de como as pessoas se comportavam socialmente, caminhando do abstrato para o concreto. Sempre perdendo o experienciar. Seu estudo demonstra o que você e a sociedade faz.

Por isso você tem ao seu redor pessoas que não sabem sentir; não se conhecem e que acreditam que sabem educar.

Nascemos videntes: tudo é curioso, pensante, reflexivo; e, com a maioridade nos tornamos cegos, pelo simples fato de excluirmos a curiosidade de olhar por uma janela. Poderíamos usá-la, mas também a porta: a sensação e a razão!!

Todavia e, portanto, é apenas no leito de morte, num feedback − editado por você − que sua vida é repassada, passando você a entender: “Somos criados e ‘educados’ por cegos insensíveis; e me tornei um, ‘educando’ outro!!”.


2 comentários:

  1. Querido Joaquim, tocante esse artigo...
    Em alguns casos as pessoas erram, falham e muitas vezes não reconhecem seus equívocos. Em outras situações dizem ter errado tentando acertar...
    Muitas desconsideram coisas que tem grande valor... O amor, a educação, a verdade, a humildade e o equilíbrio...
    Grande abraço

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  2. Para muitos que pessoalmente me indagaram sobre a afirmação "caminhando do abstrato para o concreto", friso que estas palavras se referem ao estudo de Piaget, mas não diretamente sobre a ordem de suas fases; aqui comento sobre o estudo, onde o abstrato ocorre pelo concreto de Piaget e o concreto pelo abstrato de Piaget, por isso estão colocadas nesta ordem. É um trocadilho.

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