quarta-feira, 4 de março de 2009

O Dia Internacional do Comércio Feminino

Uma vez eu li sobre o Dia da Mulher: “Dei para minha esposa uma cesta de café da manhã, e ela está toda feliz!!”

Com certeza. Todo ano é a mesma procissão financeira. Há semanas se iniciaram a caça ao público pelos subservientes da propaganda. É “O Dia Internacional do Comércio Feminino”. Rosas colombianas, livros, bombons, Brunch Venice, cestas de café da manhã, coração em pelúcia com mãos, pelúcias em geral, viagens, (mais um) aparelho de ginástica, dia num Spa, vale-presentes, ou quem sabe uma havaiana, um vale-refeição e até mesmo o Syrah 2005 (melhor vinho tinto do mundo, escolhido numa prova cega realizada em Paris, em 2008). Há de tudo no mercado. Não é qualquer comércio, mas é o internacional. E coitado de quem não presenteia. Ela fica um mês mal-humorada e não sabe o porquê, mas transcorrido o mês, sabe porque não está mais: em breve é o Dia das Mães. Que sina.

As mulheres nunca foram aceitas totalmente pela sociedade. Há memoráveis e escriturários tempos elas são consideradas de categoria subordinada.

A idéia (para alguns a certeza) de que as mulheres são inferiores aos homens, advém, além da Bíblia Sagrada, da antiguidade que já declarava que elas eram de menos-valia, pois possuíam, de acordo com a época, um sexo neutro. O sêmen (semente) era o símbolo da vida, portanto, apenas os homens eram os detentores da fertilização e do conhecimento. Logo, mulheres deviam obediência.

Com o transcorrer do tempo, pouco mudou. Mas é claro que diferenças existem, senão não precisaríamos de duas terminologias. Homem é homem. Mulher é mulher. Todavia eles vivem num mesmo patamar. O que os homens não têm, as mulheres possuem e vice-versa. Porém, isso não quer dizer que eles se completem.

O aclamado “Dia Internacional da Mulher”, antes de se tornar um comércio ou uma 25 de Março Paulista, era uma homenagem a mulheres trabalhadoras, lutadoras e ativas.

Eis, então, a história, para que você, mulher desmemoriada, se lembre e, se não conhece que passe a entender.

No Dia 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, situada na cidade norte-americana de Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de ofício para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas/dia); equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de serviço) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. A manifestação foi reprimida com total violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano. Porém, somente no ano de 1910, durante uma conferência na Dinamarca, ficou decidido que o 8 de março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem as mulheres que morreram na fábrica em 1857. Mas somente no ano de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas).

Espero que você reflita se ainda deseja receber um presente. Ainda mais você que é violentada 364 dias no ano e tem 1 (uma) noite romântica por ano, pelo simples fato deste dia internacional, aparentemente, ser seu. O dia é seu ou é internacional? Ops, vamos deixar quieto. Sem reflexão hoje, não é mesmo?! É um dia de festa.

Nesta data você recebe, classicamente, flores e homenagens diversas. E, 130 mulheres receberam opressão e queimaduras mortais. Talvez esse dia, não seja o de receber flores, parabéns ou qualquer outro mimo mercantil, mas sim, uma passeata ao anoitecer com todos – homens, mulheres, crianças, o cachorro, o papagaio... e velas, que iluminem o ato de memoráveis tecelãs e simbolize também o ato de conscientização para que ainda contribua com Direitos Humanos reais, e não apenas uma Declaração Universal de tais direitos.

Mas, para quê não é?! Você está cansada, amanhã tem que acordar cedo e trabalhar 16 horas (8 horas fora e 8 horas em casa). É melhor e cômodo ficar com o presente. Todavia, fazendo isso, hoje, você contribui para ser vendida, continuando a ser objeto. Não mais de muitos homens, mas a nova “tecelã” do mercado financeiro.

Um comentário:

  1. Presentes... São trivialidades em comparação com o respeito e estima que cada ser humano deseja e tem direito.
    Importante você lembrar essa historia que como muitas outras foi esquecida...
    Muitos... Todos os dias são verdadeiramente presenteados... Com vida e isso vale um comemorar... O viver...
    Mil Beijos Amor

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