quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Promessas Ígneas





Certa poesia expressada constrói um caminho incandescente com o grito de um lamento do passado que emerge de obscuras lacunas e expelem ao Outro uma composição de recompensa e promessa.


Dê-me um segundo
Preciso acertar minha história [...]
Meu amante me espera do outro lado do bar
Meu assento está tomado por um óculo escuro
Perguntando por cicatrizes

Eu sei o que lhe dei há meses
Sei que está tentando esquecer
Mas entre a bebida e as coisas sutis
Os buracos em minhas desculpas
Sabe que estou tentando voltar atrás [...]


A promessa somente advém de seres desesperados; o prometido oferece às pessoas dissolvidas no espaço psicossocial o que elas desejam; assim, elas fácil e antecipadamente retribuem com ações. Com isso, frise-se que o poder não se encontra na sentença asseverada, mas na submissão de pessoas não integradas que desconectadas de possibilidades, acesso e oportunidades se reduzem em fragmentos permitindo que seus estilhaços sejam vinculados por esperanças.

A promessa é magma ígneo; sem limites atravessam pensamentos que outrora escavados por ácidos morfológicos e fonéticos reconfiguram as histórias mnemônicas e consequentemente as práticas delas sintetizadas, criando ícones insanos, habituando os sentidos e a inteligência, favorecendo a inércia.

Nesse sentido, transpor desse estado é estar consciente quanto à mágica manifestação enlevada do ato verbal e de escrituras; é simultaneamente, desenvolver a identidade integral do ente, portanto, substituindo a atual nutrição do pensamento pelo composto de possibilidades, acessibilidades e oportunidades.

O pensamento não é sentença e sim um flexível ato em processo; um fenômeno ativo, vinculante, deste modo, que favorece o reestabelecimento da compreensão de que sonhos e desejos – sutilmente empacotados pela promessa – não são para serem realizados, e sim, fontes existenciais de inspiração, promovendo o ser que olhava a vida pela janela e vivia na escuridão para efetiva e poeticamente expressar:


A calma noite que flui ao meu redor
Penetra através das portas de ferro da sua prisão
Livre pelo mundo seu espírito vai
Mãos proibidas prendendo as suas
O vento é nosso aliado
A noite deixou as portas entreabertas
Vamos nos encontrar além do portão da Terra
Onde todos os rebeldes estão.

Não fique no meu túmulo a chorar
Eu não estou lá
Eu não morri.



quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Adolescências Em (Tua) Ausência

A literatura, felizmente, não é unânime nem genérica em afirmar que a adolescência é um período emocionalmente crítico do desenvolvimento humano. Felizmente, pois neste desenvolver existe muito potencial que não é semeado e cultivado. Perceba que constantemente pessoas insistem em apontar e ampliar as situações socionegativas e não as sociopositivas; observe que muitas olvidam que o Outro é outra pessoa que se constitui biopsicossocialmente e possui sentimentos e racionalidade ímpares.

Nisto, insistentemente, adultos – se é que ainda existe essa classe de desenvolvimento –, afirmam que prefeririam seus filhos como quando bebês. Posto que, indagados pelos motivos, muitos declaram que naquele momento infantil poderiam segurá-los nos braços, alimentar e cuidar. Temporalmente, no entanto, acompanhando esta ideia, os bebês se desenvolvem e crescem; e, crescidos, vivem uma adolescência em ausência: de respeito, compreensão e instrução (pelos seus genitores). Desenvolvendo-se, aquele, outrora bebê, age (in)dependentemente tanto em movimento quanto em pensamento. E é exatamente isto, a falta de enquadramento e domínio, não saber onde ele está ou o que ele pensa é que perturba o grown up.

Nesse sentido, frisa-se que o Outro, desde sua emersão no mundo, continua a ser outro, que apesar de constantemente ser manipulado, ainda possui sua singularidade, que atualmente é ignorada, e, às vezes, levada ao esquecimento.

As situações conflitantes entre adolescentes e adultos poderiam ser amenizadas se fosse estabelecida uma conectividade segura através do par relação-comunicação. Porém, as pessoas mal se relacionam e ruim se comunicam, logo não aprenderam a conectá-los, já que há um imperativo na incompreensão por juízos (sociais) constantes. Adultos, muitas vezes ideologizados, sufocam sua imparidade, sua identidade e viram peças de um tabuleiro de xadrez, asfixiando a singularidade da Outra chegando a um xeque-mate dos comportamentos humanos.

Representando minimamente a situação, Davy and Stu (2006) é uma curta filmagem baseada na peça de teatro premiada, de Anton Dudley. Com um cenário ao pôr-do-sol, e uma paisagem escocesa, a película é um estudo sobre personagens e seus comportamentos distintos, sendo em parte uma história de amor com um olhar avassalador sobre a intensidade do romance entre os protagonistas adolescentes; um amor impostamente proibido pela sociedade, o que ocasionam sutis e isolados encontros num pântano. Na história, o mais importante está no que não é dito. Está na ausência daqueles adultos que não podem ver uma adolescência entre várias adolescências, por não (lhes serem permitido) compreender o Outro, e na invisibilidade dos personagens diante da sociedade. A obra de Dudley é também um memorando para evidenciar que as pessoas são distintas e que, como na gramática, pessoa é cada uma das diversas formas que assume o verbo na sua conjugação para expressar quem fala, aquele a quem se fala e aquele de quem se fala, isto é, personas que se comunicam e se relacionam.

Este quem fala, a quem se fala e de quem se fala, no presente, está fragmentado. Nisto, conflitos socionegativos podem ser encontrados em todos os momentos do desenvolvimento humano. Deste modo, pensando no Ser-no-mundo, o corpo é um instrumento de ação que não deveria ser silenciado, mas educado com conhecimento; e isto somente é possível quando se reconhece a unidade do Outro, podendo assim a adolescência, aqui em específico, se tornar uma presença em cultivo de outros unos e não uma invisibilidade, pela ignorância. Em tal grau, Davy argumenta esta sensação à Stu: “você não necessita de privacidade na cidade. Ninguém se importa. Pode ficar no meio da rua... parado e ser praticamente invisível. [...] na cidade... há outras coisas para [as pessoas] se preocuparem. A sua própria vida”.

Contudo, no momento, ainda é a ausência a soberana: a tua e a invisibilidade do Outro; e, sobre o ser-ausente no mundo e a lacuna existente do eu para nós, a personagem-psiquiatra, Dra. Maureen Brennan na produção cinematográfica America (2009), nos evidencia parcialmente os resultados, questiona-nos e nos explica: “crianças, vivendo nas ruas. Já conversou com alguma delas? A maioria sofreu abuso em seus lares, frequentemente por seus pais, que deveriam protegê-las, mas não o fazem. Não há paz dentro destas crianças. A dor é o caminho mais rápido para o prazer, e elas acabam se ferindo apenas para sentirem algo, qualquer coisa. Agora temos várias gerações que foram criadas assim e depois perdem seus filhos para um sistema de lares adotivos que não funciona. Crianças que vivem confusas, traídas, raivosas, mas ainda ansiando por um lar, por uma família, por amor”. E para nos atualizar, a obra conclui: “há mais de meio milhão de crianças em lares adotivos na América. Quando elas fazem 18 anos e, pela idade, não fazem mais parte do sistema, apenas duas em dez conseguem. As demais terminam nas ruas, na prisão ou mortas”. Eis nesta prosa, portanto, uma balada musical.




domingo, 30 de outubro de 2011

O Autêntico Doutor

Pessoas exclamam que: “o mundo é dos espertos!”. No entanto, utilizando os mesmos vocábulos, é viável utilizar o Princípio da Inversão Dialógica (PID) e perante a situação apresentada indagar: “o mundo é dos espertos?”.

Tal princípio, utilizado em todo o contexto literário da TPG-E propõe que o ente promova a dúvida e reflita sobre as sentenças transitórias ou aparentemente permanentes, por fim, sintetizando-as.

Neste ínterim, nota-se que nem todos os seres estão espertos (visto as possibilidades, acessibilidades e oportunidades) e essa situação ocorre há tempos pela ausência de democratização do conhecimento, bem visualizada e vivenciada na adolescência.

Na literatura apenas os deuses e Deus possuíam o conhecimento e eles deveriam instruir os humanos. Atualmente o espaço é ocupado pelos doutores.

A palavra doutor é facilmente identificável em diversas línguas que mantém o seu radical; adveio do latim docere que se derivou em doctoris significando mestre, aquele que ensina. Doutor é uma palavra originada entre os anos de 1275-1325 e era titulada àquele que possuía a sabedoria e a utilizava para responder as indagações da humanidade o que equivaleria ao oráculo mitológico, porém na Idade Média. (Palavra criada antes do termo advogado que pressupõe registros a partir de 1350-1400 e médico entre 1640-1650).

Ensinando gerações a humanidade manteve o título acadêmico, que é usado comumente como vocativo por médicos, advogados e psicólogos; foi oferecido a esses profissionais como oferenda mitológica de um público, que muitas vezes, não deseja conhecer-se, indagar-se, e sim, é sedento de respostas prontas e direcionais; um público domesticado. 


Autenticamente, o título corresponde a poucos, independente do diploma, àqueles que promovam a sua atitude profissional de semear o conhecimento; e não àqueles que apoiam a oferenda secular de aprisionar o conhecimento, realizando desejos de uma sociedade que por vezes, criou um grupo para se impor a outro e se equivaler a terceiros.

Infelizmente, poucos possuem a possibilidade de acesso a informações orientadas, o que favorece a adulação servil existente sob a condição de apatia e inércia e que induz publicar esta escritura pensando no tédio, um sono do qual se pode acordar.

Deste modo, se afirmam que o mundo é dos espertos, outrossim, indago se é adequado que a humanidade se apresente subjetiva e fisicamente desta forma. Pois, frise-se que na diferença de seres nesse reinado humano todos podem contribuir se cada totalidade de ente possuir o viável interesse; portanto, cada pessoa é uma pedra arremessada ao lago, que provoca ondeantemente o apático o que auxilia a construir o mundo de que os poetas sublimam.







sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O Fenômeno do Ser Vazio

Em um breve comentário da fenomenologia pragmática, em que o ser é único, perfeito e obviamente fenomenal, muitas pessoas se inflam, porém não se visualizam caso estejam constituídas pragmaticamente como um colmo de bambu.

O fenômeno é tudo aquilo que aparece e se expressa; que pode ser percebido pelos sentidos ou pela consciência; nisto, também está o ente humano que atualmente sofre com sua (induzida) ausência de percepção, consciência e práticas que ofuscam as possibilidades, acessibilidades e oportunidades.

O ser por sua natureza constituinte é extraordinário, no entanto, quando pela adição de futilidade ele habita um espaço imaginário que o mantém oco e ordinário, aguardando com esperança e construindo sonhos, como o que acontece nos psicossociais relacionamentos disléxicos.


Dislexia é uma dificuldade de aprendizagem caracterizada por problemas na linguagem receptiva e expressiva, oral ou escrita. [...] pessoas disléxicas têm dificuldade em traduzir a linguagem ouvida ou lida para o pensamento, ou o pensamento para a linguagem (SILVA, 2009, p. 471).

Amplificando o conceito de dislexia para além da aprendizagem de assuntos escolares e trazendo-o para o contexto das gerais práticas humanas, existem atualmente contatos que geram as convencionais convivências e incongruências relacionais familiares e sociais, relativamente como é conceituado teoricamente nesta definição de Silva (2009) e praticamente entendendo a situação como a de um ser psicologicamente vazio.

Vazias devido às pessoas serem superficialmente informadas e levadas à confusão que por sua vez em algumas delas emergem características que prendem a atividade humana e em outras a literal acomodação. O Ser vazio não age, logo apenas convive consigo e com os outros numa forma disléxica de relacionamento.

Nesse sentido, com o auxilio da funcionalidade do serviço psicológico, pertence à humanidade a responsabilidade de uma necessária e adequada visualização de si para se compreender como uma tela artística que útil e ativa está disponível a ser pintada; assim, cada um com sua forma complementa um formoso mosaico de fenômenos extraordinários – a real conectividade humana; no entanto, atual e mundialmente, em sua maioria, as pessoas ainda se apresentam como invisíveis na ação e/ou recepção.

Portanto, visto que nossa permanência neste mundo não é escassa, mas existencialmente permanente e influenciável, para um legado, mapeie sua rota percorrendo os caminhos e criando outros de práticas extraordinárias que apenas podem ser constituídas por fenômenos conscientes do sabor do néctar que existe em seu núcleo; tudo isso, para não vegetar na vida consumindo resíduos. Olhe para si e seu espaço!



___________________
SILVA, S. S. L. Conhecendo a dislexia e a importância da equipe multidisciplinar no processo de diagnóstico. Revista de Psicopedagogia, ano 26, n. 81, 2009, p. 470-5.





quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Na Sombra de Um Ídolo Oco

Comum afirmação, pensamento e expressão em comportamentos é considerar outrem como ídolo, notando-se que as próprias ações não são percebidas. Por isso, a importância em entender o que se valoriza.

Ídolo é originado de idolum, que significa imagem; podendo ser entendido ainda, como: fantasma e aparência. A palavra assume diversas personas sociais dependendo do contexto, como: pai, mãe, filho, entre outros familiares e conhecidos que se relacionam; personagens, deuses, demônios e qualquer outro ser animado ou inanimado que adquire o valor que cada um nele investe; ídolos são seres valorizados positiva ou negativamente.

A cada idolatria, o ser se esquece de si e vive na sombra de outrem. Portanto, desejar algo em si, atribuindo o desejado como atitude em outrem e permanecer com este para realizar seu desejo em sci-fi, na prática, é não realizar aquele desejo em si. Então, evidencia-se lacunas na identidade: multidões nãoidentificadas se nutrem de aparências; e estes fenômenos, macilentos fantasmas, nutrem-se das massas.

À vista disso, Nietzsche, em Crepúsculo dos Ídolos, expõe que:

É preciso aprender a ver, é preciso aprender a pensar, é preciso aprender a falar e a escrever; nessas três coisas a finalidade e a cultura [é ser] nobre [...] [Talvez] em sua afirmação que o ser é uma ficção, Heráclito terá eternamente razão. O "mundo das aparências" é o único real, o "mundo-verdade" foi somente acrescentado pela mentira [...]

Em nossa sociedade, as pessoas que abençoam exigem que se cultuem o outro, para não reconhecer o pessoal poder; transformando uma mentira em verdade pela fórmula de juros compostos, para não destruir as instituições humanas que governam as ações no mundo.

Em tal grau, há mais ídolos que verdades no mundo, pelo fato de estas não serem percebidas. Por isso, se desejar preencher suas lacunas com a atitude: escute-se, responda-se, enfim, perceba-se e consigo aprenda.

A idolatria a qualquer ser é apenas o desejo de ser ver, de se ouvir; então, se você ofertou ao seu ídolo todo o poder que dele emana, utilize seu poder diretamente em você, caso contrário, continuará na sombra... como sombra de um ídolo oco; no entanto, consciente estou de que para muitas e sofridas identidades que estão lesionadas, fragmentadas e estupradas mentalmente, no momento, estar na sombra é a única segurança acessível.



terça-feira, 5 de julho de 2011

The Myth of Success

 O Mito se refere a uma narração ou um discurso que é simbólico, e seu objetivo é o de explicar o fenômeno do ser no mundo através de deuses, semideuses e heróis. Já o Sucesso, é um termo datado de 1530 e expressa, etimologicamente, o sentido de resultado, de avanço, originando-se do latim, succedere, isto é, vir depois.

Em tempo anterior a 1530, as civilizações possuíam a prática de alcançar seus resultados, avançar em seus planos, porém não utilizavam tal terminologia – concentravam-se em conquistas. Posteriormente a esta data, a humanidade instrui um mito renascentista, em que na atualidade, quase todos querem, oram, imploram – num rito – pelo sucesso, sem compreendê-lo. Tentar dominá-lo, não é real e régio, é uma fantasia.

Mimi Schmir confessa nas falas de uma personagem no roteiro de Save Me, expressando sobre a fantasia:


Lembra quando você era uma criança e acreditava em contos de fadas? Naquela fantasia de como seria sua vida [(...) e de como os personagens dos contos] estavam tão próximos que você poderia senti-los. Mas, eventualmente, você cresce. Um dia você abre seus olhos e o conto de fadas desaparece. [...] é difícil de abandonar aquele conto de fadas inteiramente porque quase todo mundo tem uma pequena esperança, uma fé, de que um dia abrirão os olhos e tudo se tornará verdade.

Veem-se pessoas desesperadas e outras se sentindo arruinadas social e psicologicamente, entre os motivos, também pelo fato de procurarem o País das Maravilhas, e melhor afirmando, o lugar do sucesso.

Este lugar é imaginário; se ele fosse preenchido, seria destruído e não haveria condições de outra pessoa ocupá-lo, não haveria mais o sucesso a ser almejado. O objetivo do marketing do sucesso é mantê-lo vazio, para que todos os excluídos aspirem por ele, ofertando crenças sobre possíveis pessoas – exaltadas como heróis – que o conseguiram. Por consequência, os seduzidos, querem preenchê-lo para se acomodar, sendo ainda significativo, conferir os sucessos da neutralidade científica.

Kuhn (1962/2006), por exemplo, sugere que os cientistas muitas vezes são treinados para considerar uma teoria errada historicamente em função da comunidade científica em que estão inseridos. [...] Hagstrom (1979) demonstra como os cientistas, muitas vezes, são levados a escolher determinadas áreas, teorias e temas de pesquisa devido ao reconhecimento social que lhes proporcionarão, o que faz, com que, ao mesmo tempo, rechacem áreas supostamente ultrapassadas, e/ou polêmicas na ciência, porque diminuiriam as suas chances de sucesso (CRUZ, 2010, p. 490).

O ser científico, muitas vezes, utiliza-se do Ter o Interesse para se suceder, isto é, ter bom resultado.

As pessoas não possuirão o sucesso, pois este é um mito; elas desfrutam de conquistas: uma a uma, em diversos momentos, e, complementando com Schmir, "é como se um dia você percebesse que o conto de fadas pode ser levemente diferente do que você sonhou".

Para perceber as conquistas, poucas pessoas possuem o real, o íntegro e o essencial interesse; percebê-las, compromete a quem pratica tal ato, a ser arraigado em objetivos e planos mapeáveis que garantem o desenvolvimento original do ser no mundo, simplesmente, através da observação e pragmática da Trindade Tpg-eiana: Possibilidade, Acessibilidade e Oportunidade (PAO).

À vista disso, com o atual desenvolvimento da sociedade pelos humanos, não possuir ciência The Myth of Success é como caminhar contrário à luz; no entanto, pode-se crer no que desejar, é o que a maioria faz – o translado social; e, como o diálogo da anedota do roteirista Jeff Astrof, em Make a WISiH:

− Nós acreditamos nisso e temos muito sucesso – afirma o filho.
− Todos os idiotas acham que terão sucesso. Por isso são idiotas – contesta o pai.
− Somos idiotas diferentes – replica o filho.


sábado, 4 de junho de 2011

O Goblin e o Gold no Ensino e nas Profissões

As instituições estão em todos os locais sociais, e são organizações que ora coordenam ora controlam o funcionamento da sociedade.

Ouve-se, frequentemente, que nas instituições trabalhistas se necessita de profissionais ascendentes com formações quantitativas honrosas sendo estas formações vinculadas às instituições de ensino superiores qualificadas.

Entretanto, observando as atuações de diversas instituições, principalmente a de nível de ensino superior, na perspectiva da fenomenologia pragmática, nota-se que poucas distinguem e compreendem o que são Qualidade, Ensino e Formação. Em consequência, nas instituições empresariais, empregador e prestador de serviços, atuam com ausência de gravidade, flutuando numa confusão administrativa e mental.

Atualmente, toda instituição de ensino, em qualquer nível, apenas tem condições de informar. Nenhuma possui o poder de formar. A formação é contínua e ocorre durante toda a existência vital, como afirmam a psicopedagogia e a psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem humana. Nisto o ensino qualitativo é praticado pela didática de plataformas, principalmente, as comunicacionais e as relacionais que se conectam simultânea e frequentemente, e não exclusivamente as pedagógicas. Portanto, a qualidade ocorre quando as instituições reconhecem tais pontos e se objetivam em desenvolver a práxis – e não teorias e/ou práticas. Todavia, não se construindo a existência de tais condições de ensino em muitas instituições, nas de aprendizagem e nas profissionais, apela-se os Goblins para encontrar Golds.

Os Goblins emergiram no folclore nórdico, e, na lenda, normalmente estão associados às condutas nocivas, possuindo em algumas mitologias intenso poder de controle. Porém, são seres de pouca inteligência e hábitos selvagens e que moram em cavernas – talvez, como aquela representada pelo Mito da Caverna de Platão –, sendo uma significativa característica do Goblin o interesse em Ouro – Gold –, acumulando infinita riqueza, mas não a utilizando apropriadamente.

Nas instituições de ensino, quando existem os Goblins, estes são os responsáveis pelos profissionais que são intensamente titulados, bajulados, considerados como Ouro, peças indispensáveis, pois são arrecadados para falsificar: qualidade, ensino e formação. O Ouro é utilizado, ambivalentemente, por instituições que necessitam de um atrativo devido à emergência em inflar seu caixa financeiro e na intenção de mostrar que estão promovendo um ensino efetivo e fidedigno; os Goblins institucionais são semelhantes aos portadores da Síndrome de Münchausen, porém ao invés de falsificar sintomas de doenças, eles simulam a glória. Essas instituições apoiam cursos cujo ensino seja formativo e teórico e não o informativo que requisitam recursos em práxis e criatividade, que deveriam ser articulados ao Interesse.

Nisto, para as instituições empresariais, os profissionais “formados” por Golds e Goblins, ao estabelecerem um cargo, pensam somente neste, e a partir do atual contexto formativo, trabalham no caos não criativo, visto que aprenderam a valorizar atuações goblínicas e não as de L’attitude.

Exempli gratia, eis alguns trechos do que se expressa no documentário Inside Job (2010), referente à crise financeira mundial:



[...]

Os homens que destruíram suas próprias companhias e levaram o mundo para uma crise, saíram de cena com sua fortuna intacta. [...] O crescimento do poder do setor financeiro americano foi parte de uma mudança maior nos EUA. Desde os anos 1980, os EUA tornaram-se uma sociedade mais desigual e sua dominância econômica tem caído. Companhias como General Motors, Chrysler e US Steel antigamente o coração da economia americana, foram mal geridas e estão ficando para trás de seus concorrentes estrangeiros. [...] Por que um engenheiro financeiro deve ser pago de 4 a 100 vezes mais que um engenheiro de verdade? Um engenheiro de verdade constrói pontes. Um engenheiro financeiro constrói sonhos. E, quando esses sonhos se tornam pesadelos, outras pessoas pagarão por eles. [...] Um médico pesquisador escreve um artigo dizendo: ‘Para tratar esta doença você deve receitar esta droga’. Acontece que o médico tem 80% de seus ganhos pessoais vindo do fabricante da droga. Isto não te incomoda? [...] Os presidentes da Universidade de Harvard e Columbia se recusaram a comentar o conflito de interesses acadêmicos. [...]



Para um memorando simples, observe um folder publicitário institucional, note que sempre há uma menção titular ascendente, Gold, como se favorecesse proeminência. Mas, informá-lo é significativo, no entanto, por muitas circunstâncias e conflitos institucionais pode não ser relativo.

As pessoas são influenciadas por uma cultura que privilegia Ter o Interesse e que hipnótica e encantadamente canta: “[...] que se dane o mundo [...]”; ou seja, nesse contexto, se privilegia a posse, uma bagagem, porém, estas deveriam ser reflexivamente vistoriadas, pois, muitas podem ter sido furtadas e/ou ficcionalmente organizadas, devendo ainda se compreender que você está no mundo e o constrói com suas bagagens e interesses, e, utilizando o verbo, se ele se danar você se dana.

Contudo, agora, no século XXI, olhando inflexivelmente apenas para uma direção, as pessoas não pesquisam em seu acervo, acessível em mind cellardoor – supondo que o tenham –, SONHAM com o amanhã e não percebem o que está e podem desenvolver, (re)organizar e criar. Lovely Gold... for Goblin!


terça-feira, 10 de maio de 2011

Honoris Causa: Homo Hominum Diabolus

As pessoas nos ambientes de aprendizagem – para além das falidas instituições escolares – possuem atualmente um desafio: tomar consciência plena de sua importância em participar e contribuir pela atitude.

A humanidade padece de iniciativa; ela possui o Ter o Interesse, eximindo-se de Ser de Interesse, pois, quando se possui este seus anseios se ramificam para objetivos planificáveis com estratégias projetáveis; já aquele, almeja um resultado ab imo corde, com auri sacra femes, quid pro quo. O Ser de Interesse, ou simplesmente, interesse, propõe ad hoc com a fortiori e a posteriori.

Animus. Seja consuus do interesse sine qua non.

Em pesquisa in loco contribuída pelo Instituto Cenorpsi e col. , realizada de dezembro de 2010 a janeiro de 2011, através de uma amostra na região noroeste paulista correspondente às cidades de Araçatuba, Auriflama, Birigui, Coroados e São José do Rio Preto, responderam ao questionário nesta contribuição, 21 pessoas que trabalham em cargos de Balconista, Farmacêuticos, Auxiliares, Professores, Pedagogos, Filósofos, Psicólogos, Secretários, Esteticistas, entre outros Profissionais Liberais e Empregados do sexo masculino e feminino com idade entre 20 anos e 60 anos com escolaridade mínima o Ensino Fundamental Completo ao Superior Completo. No questionário, as 10 perguntas de múltipla escolha solicitavam reflexões sobre relacionamento, comunicação, situações familiares, de trabalho e educacionais, além de incitação de atitudes.

As pessoas expressaram que seu relacionamento com os outros se encontra Ótimo, todavia, em decadência. Já o grau de confiança nas (e das) pessoas, elas apontam como Regular, porém em ascendência. Há conflitos: as pessoas utilizam sua percepção, observam os fatos, mas não possuem consciência plena dos ruídos existentes na comunicação, o que, distraindo-as, elas ausentam-se dos interesses, e se posicionam como interesseiras (ter o interesse), mesmo quando apresentam superficialmente propostas. Nestas, os entrevistados entendem a confiança como Regular, entretanto desejam que melhoramentos no relacionamento devam ocorrer pelo incentivo da própria confiança e do respeito; também propõem os entrevistados, expressando que há carência de atitude demonstrando que os processos de aprendizagem em seus diversos âmbitos, estão ausentes de limites, posicionamentos e de ensinamentos pelos diversos atores sociais, e que os educadores escolares estão condicionados e petrificados, esperando os melhores salários para agirem àquilo que lhes competem funcionalmente.

Em síntese, a pesquisa dispõe o ser humano como Regular, todavia há disposição e dúvidas em situá-lo num aspecto Bom ou Ruim, respectivamente ascendente ou descendente. Neste impasse, as pessoas possuem brotos de interesse, todavia não sabem o que fazer; estão privadas da prática, acostumadas ao hábito e ao julgamento, e então, como expressou em um dos versos do hino Sing em performance de My Chemical Romance, para àqueles que querem se afastar do assunto: “keep running!”. Apesar disso...

Nessa situação, vivendo a plena dependência e não sua administração, como despertar? A produção cinematográfica de O Quarto Sábio, em 1985, relata a história de um homem sábio e que durante a trama, numa cena específica, a personagem encontra um grupo de pessoas e contribui ao desenvolvimento daquele clã os auxiliando, ensinando-os. Num momento o sábio decide partir e continuar seus compromissos para atingir seus objetivos pessoais. A líder do grupo o questiona a se justificar. Ele responde que eles devem se tornar autossuficientes. Ela, por fim, replica: “Quem vai nos ensinar?”.

Quem lhe ensina é seu interesse; quem aprende é você. O Outro complementa. Na inércia, esperando o despertar de outrem, as possibilidades, acessibilidades e oportunidades apenas lhe acenam. No entanto, onde se encontrará nesse deserto de humanos um singelo olhar de quem se compromete? De facto, cum laude, ecco homme, hominum diabolus. Cadit quaestio. In cauda venenum. Sic transit gloria mundi, urbi et orbi. Verba volant, scripta manent.


terça-feira, 12 de abril de 2011

O Bullying é uma Benção!

No ensejo são midiados casos de suicídio influenciados pelo Bullying. Este é uma ação praticada por alguém, um emissor, independente da idade, que possui a habilidade de liderar não positivamente o espaço onde se encontra, provocando sentimentos desconfortantes nos receptores e confluentes, podendo, portanto, geralmente ocorrer violência física e/ou psicológica que atingindo altos níveis oportuniza a quem sofre demasiadamente, em circunstâncias atemporais, uma tomada de atitude.

Tais atos acontecem em diversos locais, porém, é acentuadamente frequente nas instituições escolares, que são por atribuição social o espaço em que por um longo período várias crianças e adolescentes, bem como adultos, estão em contato intenso, e cada um deles possuem singulares interesses, ideias e objetivos que por uma ausência de comunicação adequada potencialmente se emergem conflitos. Muitos deles conhecem a respeito de seus íntimos interesses; poucos sabem sobre convivência e diálogo.

Principalmente na cultura ocidental e em seus retratos sociais, o Outro é alguém que se deve eliminar. Esta é a ordem (subliminar) emitida, visando o progresso, por exemplo, da Nação, dos Negócios e da Guerra; participar desta é enobrecedor, podendo-se ideologicamente ganhar reconhecimento, honra e poder. O Outro é alguém que se não lhe trará benefícios (ou que se você não vê nele utilidade para o grupo) deve excluí-lo – como elegantemente ocorreu no conto “Lord Of The Flies” de William Golding, publicado em 1954. Em tal grau, na antiguidade, assim eram tratados os bebês que nasciam deficientes, e neste crivo continua quem se expressa em comportamento, linguagem e pensamento diferente à norma. Todos devem seguir o padrão para que possam ser “compreendidos”, controlados e em consequência influenciados e manipulados. Entretanto, sujeitos à falta de informação, os manipulados, quiçá juridicamente, se defendem como ignorantes!

O perverso relacionamento humano na história é incessante. Por exemplo, no litoral inglês, nos tempos da Idade Média, piratas desembarcavam e procuravam por crianças. Meninos e meninas eram vendidos por suas famílias como criados ou para outros serviços particulares. Antes mesmo deste período existiram atos execráveis que os humanos cometiam aos próprios humanos, pois houve constante e insistentemente quem obtivesse o poder, logo, cada um devia possuir um valor. Hoje nem todos possuem um preço, alguns são seduzidos apenas com uma isca. Disso, como esclarecimento, a palavra “cavaleiro” que era no período romântico tão usualmente valorizada, vem da mesma origem latina que a moderna palavra “gene”. Assim, significa, literalmente, “alguém bem nascido”. Se antes o valor das pessoas se encontrava em sua conduta como um cavaleiro, atualmente está em seus genes. Neste sistema severo e rígido, em transmissão analógica e digital, todos, desde que favoreça a interesses, devem possuir o seu lugar e valor, resumidos em sucessos ou fracassos, que você adquire geneticamente. Pense! Essa talvez seja a de seu vizinho e também a sua ideia de Outro.

Se existe uma norma inflexível a ser seguida, é o correto, que deve ser venerado – amém –, e a curva se torna um empecilho, que com soldados fiéis deve ser dominada e alinhada. Por isso, o Bullying é uma benção. As pessoas que o praticam são abençoadas, ou seja, delegadas a praticá-lo. As instituições públicas, particulares e religiosas que coordenam e controlam a sociedade, muitas vezes negando direitos e exigindo deveres, não podem autocraticamente depreciar pessoas, todavia, democraticamente delegam as atividades aos ignorantes civis. Portanto, o Bullying é, por interesses, uma atividade sutilmente legal que despreza e estupra as relações sociais; é uma moderna encenação do Santo Ofício, uma dogmática ação, digna de fé, que se não for efetiva por sua própria ação, impulsionam quem dela é vítima a uma autoeliminação.

Há muito mais do que acontece hoje e agora. Por séculos, as pessoas consideradas como “fora da lei”, isto é, àquelas que não podiam possuir um espaço para existirem e se manifestarem eram tratadas como lobos. Como estes habitantes da floresta, com honra eram caçadas e assassinadas. A prática do Bullying maneja suas vítimas como lobos. Com estas ações creem os “valentes” que estão dedicando e desempenhando a poesia de atos de fé e de boa conduta; porém, influenciados e manipulados, continuam a favorecer e a apoiar a toxidade da servidão humana, ao invés de, com uma fiel informação psicopragmática, poder exercer uma atitude compreensiva entendendo quem é esse Outro, ouvindo-o, além de promover convivência e respeito ao singular e, portanto, diverso ser humano, que como uma caixa com variados lápis de cores, cada um em seu tom, pode pigmentar uma tela artística e social.


*Artigo publicado posteriormente no Jornal Tribuna Regional, 16 abr. 2011.


segunda-feira, 7 de março de 2011

Legados de Olympe de Gouges e as Intenções Subjetivas da Inclusão

Inclusão é um termo constantemente utilizado para favorecer um grupo minoritário a possuir as mesmas acessibilidades que um grupo majoritário recebe há muito tempo, unificando-os, minimizando-se a dicotomia. Entretanto, psicossocioculturalmente, neste último grupo, geralmente há a tendência de ocorrer desconfortos, visto que, subjetivamente, sua área existencial é minimizada para que outrem possa ocupar um espaço considerado fértil. Ou seja, se antes uma pessoa possuía um espaço aproximadamente de 1 metro quadrado, com a inclusão, a mesma pessoa, adquire 0,99 metros quadrados. E isto, de acordo com nossa formação subjetiva e cultural, constitui-se em um incômodo, que movimenta os famosos preconceitos.

Alberto Dines, jornalista, escritor e professor, em “Mídia, Civilidade e Civismo” argumenta que “pré+conceito, o ‘preaconceptu’ latino, é um julgamento prévio, sem ouvir as partes, posição irrefletida, pré+concebida, irracional. Também pode ser entendido como um pré+juízo, tanto que em espanhol de diz ‘prejuício’, em francês, é ‘prejugé’, em inglês, ‘prejudice’, e em alemão, ‘vorurteil’. Em todos os casos, a mecânica etimológica é idêntica: o prefixo indicando antecipação e, o resto, significando julgamento... Em português, o preconceito também significa dano, estrago, perda, em outras palavras, a adoção sumária de uma opinião ou critério, antes de passar pelo filtro de um julgamento equânime, constitui um mal, ofensa moral” (1996/1997, p. 46).

Nisto, o “sapere aude”, o ouse saber de Kant durante o Iluminismo no século XVII e a “Liberté, Egalité, Fraternité” de Jean-Jacques Rousseau perante a Revolução Francesa no século XVIII, são lemas que oportunizaram conquistas, todavia, eles estão funcionalmente transparentes e subjetivamente opacos no século XXI cristão.

Olympe de Gouges viveu durante o movimento francês como revolucionária, escritora e feminista, e em 1789, publicou “Os Direitos da Mulher e da Cidadã”, no qual reivindicava a abolição da submissão feminina à masculina, posteriormente, sendo forçada a se silenciar. Ainda praticando seus ideais, em 03 de novembro de 1793 foi processada e acusada, sendo sentenciada à guilhotina por querer se igualar ao homem, o que trairia a sua condição social de mulher. Suas atitudes se tornaram um legado.

Em 1993, a emissora norte-americana ABC, na série “The Wonder Years”, nas cenas de “The Little Women”, frisava que “as estruturas do poder tem sido as do homem branco de classe média. Agora muitas mulheres querem mudar seus destinos e procuram meios concretos para fazer isso. Na primavera de 1973, o movimento de liberação feminino estava no seu auge. A revolução progredia na América, mudando estereótipos e construindo novas estradas. Era uma época de consciência e expectativa, uma luta pela igualdade e liberdade”; uma tentativa de inclusão semelhante àquela, aproximadamente 200 anos antes, proferida por Olympe.

Estes fatos, bem como os demais representados pelas minorias étnicas, sociais e sexuais, desde a antiguidade, há 28 séculos, possuindo neste percurso um status ciclotímico, convivem com uma discriminação pela distinção do outro, o que gera um vínculo diferenciado sentenciando preconceitos, ocasionados, majoritariamente, por uma busca de poder, pelo interesse em territórios e, no mínimo, pela simples ausência do “sapere aude” kantiano.

Se ousassem descristalizar as ideias acerca do mundo e dos sujeitos, isto é, aquelas construídas histórica, psicológica, social e culturalmente, as pessoas compreenderiam que a gangorra exclusão-inclusão na atualidade possui um interesse, não totalmente distinto dos últimos séculos, e por estes oportunizados.

Pensando nas minorias étnicas, sociais e sexuais, se uma pessoa do conjunto majoritário reconhece que não existem recursos sociais, intelectuais e físicos que favoreçam a inclusão daquele milímetro ao quadrado, por exemplo, e, mesmo assim, legisla-se exigindo uma aplicação da temática, existe o interesse na mínima ou nula funcionalidade dela, visto que quem o aplica não obtém resultados positivos, e sim angústias; ou seja, subjetivamente tal ação se apresenta como programada para uma conservação do status quo social. E, atualmente, é semelhante também o que acontece com o conceito de Criatividade corrente nos âmbitos empresariais. Não deveria haver necessidade de incluir e excluir o que está.

No entanto, como persiste um processo preconceituoso para a inclusão, num duelo entre o ideal e o real, como uma fantasia de crianças, é significativo relembrar as ideias da filósofa Marilena Chaui em “Senso Comum e Transparência” (1996/1997), onde ela assegura que o preconceito é conservador e ignorante; ele exige que tudo seja familiar, próximo, compreensível e imediatamente transparente, mas sutilmente ele também exprime sentimento de medo, angústia e insegurança diante do desconhecido, e, admira o que não se compreende; o preconceito é, essencialmente, contraditório, ou seja, ama o antigo e deseja o moderno, confia na aparência, mas é temeroso; teme a sexualidade, porém deseja a pornografia, declara a igualdade entre os homens, porém se expõe como racista e sexista. Por isso, o preconceito se julga Imperador, não obstante, oculta medos e angústias, dúvidas e incertezas.

Não é necessário, portanto, apenas o ousar saber, a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, mas também, a maturidade criativa e prostituta de reconhecer primeiramente sua própria identidade para posteriormente enxergar e ouvir a poética do outro, caso contrário, os entes do preconceito e da discriminação se isentando socialmente, somente se apresentam como uma ideia macilenta de fantasma: invisíveis, sem conteúdo e creem, defendendo-se, que possuem algum espaço quadrático.


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A Importância do (Des)equilíbrio Emocional

Tempo! Templo! Tempo! Templo! Armadas com estoque muitas pessoas lutam e desejam controlá-los; desejam mais... Entretanto, nos momentos que possuem permanecem distraídas no tempo, templo... muitas vezes se isentando de construir e participar de sua fiel história existencial que é repleta de emoções e expressões: pintamos, esculpimos, compomos e escrevemos (com) sensação; e como expressou a soprano estadunidense Beverly Sills: “a arte é a assinatura da civilização”.

Ao pensarmos e pesquisarmos na História se nota que seus dados são contemplados por descrições que concluem as vivências para ganhos ou fracassos, sendo que no primeiro há aplausos e coroação. Entende-se que na ciclotímica curva histórica, estas informações vivenciais – quando não são excessivamente manipuladas – são como mapas existenciais que nos direcionam a compreender as situações que vivemos atualmente, isto é, pode-se se compreender como se formou o que presenciamos e sentimos no presente, para que possamos minutar ideias para os dirigentes vindouros. Todavia, se os dados históricos são resumidos em batalhas (políticas), vitórias e poder, onde neles se encontram as emoções humanas, estas que poderiam pigmentar o mapa existencial? Quais e como foram dramatizadas as emoções das personagens históricas?

As ações registradas na História são presenciadas por humanos – biopsicossociais – porém, fato é que suas condições emocionais não estão (adequadamente) retratadas, compreendidas e, portanto, não são valorizadas. Ensina-se, trabalha-se, discuti-se... fatos, isto é, apenas sobre uma ínfima fração da totalidade, representando o quanto se desconsidera os aspectos psíquicos.

Crédito há para o objetivo, “sólido” e mensurável. Pensando na História, nela se relata e se conhece a quantidade, as características das personagens, sobre o que se alimentavam, vestiam... mas não as representações sobre os sentimentos e similares que manifestaram em sua existência. As pessoas não se limitam, nem suas histórias. O homem é um ser de pensamento racional e agitação emocional. Suas ações são cúmplices de diversos aspectos possíveis, sendo que um deles e importante, é representado pela emoção. Se os fatos nas histórias, e.g., são funcionais para compreender e direcionar a atualidade, o subjetivo, “líquido” e possível, também o é.

Mencionado a História e sua importância social, é memorável que cada um possui uma história singular numa Teia Histórica, que é ilustrada por momentos também de memórias e sentimentos perturbadores, fatigantes e assustadores, que são considerados muitas vezes causadores de mal-estar; porém, frisa-se que eles influenciam beneficamente ações e direções nos mapas existenciais. Eles são aspectos emocionais que raramente nos permitimos utilizar. São “emoções nutritivas” que arremessamos, muitas vezes, ao lixo, como alguns dos ingredientes nutricionais que descartamos inapropriadamente na cozinha. As emoções são substâncias humanas, que às vezes podem ser amargas, mas se utilizadas adequadamente podem nutrir os conflitos.

Na história pessoal, as emoções estão num caminho obscuro, e assim se encontra, pelo fato do ato de caminhar, no presente, ser uma irrelevância. Pensa-se no ponto de partida e na ilusão da chegada. Assim, caminhar no escuro faz com que cada passo pareça falso e perdido, sem direção, desequilibrando-se. Não se trata do quão rápido se chegará ao seu objetivo, mas é importante considerar que às vezes se caminha numa subida, e se sentir nela é se posicionar para o próximo passo. Por isso há necessidade de espaços psicológicos e psicopedagógicos para se compreender e desenvolver a si mesmo (com o outro), o que está em vigor, atualmente, como a última alternativa, quando é considerada.

Por fim, nesse movimento histórico, é importante se conscientizar que as pessoas, por mais que não percebam, promovem (super)ações, a partir de situações aparentemente inconvenientes, desconfortantes e (des)equilibradoras; isto é, constantemente traçam informações em seu mapa para seguir viagem, e como afirmou o poeta, crítico e dramaturgo inglês T. S. Eliot: “[...] o fim de nossa viagem será chegar ao lugar de onde partimos, e conhecê-lo, então, pela primeira vez”. Conhecer-te pela primeira vez! Tempo?


*Artigo publicado originalmente no Jornal Tribuna Regional, 19 fev. 2011.


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Humanos Deprimidos e Seus Registros Existenciais

Em nossa sociedade muitas pessoas devem estar cientes que no presente se vive na Era da Informação. Ela se destacou após a industrialização, a partir dos avanços tecnológicos, sendo mais notada na década de 1980, passando a se multiplicar como uma metástase. Nisto, no atual século XXI, a informação é um imperador que traz impactos profundos, destruindo (e reconstruindo) a forma de se existir.

Ao mencionar o termo Sociedade, é significativo evidenciar que ela não é um ser próprio, e sim, constituído por um agrupamento de pessoas. Por isso, as informações e as situações existentes hoje e outrora produzidas, são de autoria humana. Entretanto, atualmente, dotadas de demasiadas informações, as pessoas se tornaram confusas em suas ações e escravas do tempo, eximindo-se da criação de uma habilidade de reflexão sobre suas atitudes.

Virtual e real se fundiram, confundindo quem os criou. As pessoas atuam na sociedade sem o compromisso consigo mesmas; isentam-se da compreensão de sua identidade e de seu papel social, confiando, intencionalmente ou não, que um Avatar pode lhes representar em todos os âmbitos.

Com esta compreensão, as pessoas encontram-se ausentes de contato, na função Standby. Elas que constroem a sociedade, se confundem em suas próprias criações e pensam que estão deprimidas. Na realidade, em muitas situações, este sentimento é apenas consequência de ações não compreendidas; isto é, ações habituais, excessivas e ininterruptas.

Para representar como as pessoas estão ausentes de consciência de seu comportamento e de suas ações, Caprica, uma produção cinematográfica, representativamente, evidencia em sua trama, a quantidade de registros existenciais que são desenvolvidos e a intensidade de informações pessoais que se acumulam, e raramente se percebe; são informações que se entendidas poderiam auxiliar seus criadores em sua vida diária, pois eles teriam o equilíbrio de suas próprias práticas.

A obra apresenta que o cérebro humano contém cerca de 300 megabytes de informações, mas isso não seria suficiente para compreender as pessoas. A questão seria não como armazenar essas informações, mas a forma de acessá-las. Não se poderia baixar uma personalidade, porque não existe um modo de traduzir os dados; mas as informações cerebrais estão disponíveis em outros bancos de dados. As pessoas deixam muitas digitais ao longo da vida: exames médicos, DNA, avaliação psicológica, registros escolares, e-mails, gravações de áudio e vídeo, câmeras de vigilância, compras no shopping, jogos, multas de trânsito, contas de restaurante, registros telefônicos, músicas preferidas, ingressos de cinema, programas de TV, agendas, SMS, perfis na web, prescrição de contraceptivos, entre outros.

A alta tecnologia e seus avanços ofereceram muitas oportunidades para os humanos se manifestarem e se apresentarem aos outros na sociedade, todavia a forma como são utilizas podem representar mil e uma consequências – para você e para todos que convivem contigo.

Nesse sentido, o congestionamento de informações criadas pelos humanos, os deixam 24 horas por dia sem sinal, distraídos em relação a si mesmos e aos que os rodeiam; portanto, não deprimidos, e sim, distraídos. E, transitar da função Standby para Power, é aprender a perceber seus atos e praticar mais ações criativas e conscientes, e menos as reprodutivas advindas pelo hábito.


*Artigo publicado originalmente no Jornal Tribuna Regional, 15 jan. 2011.


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