segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A Situação Ocupacional do Psicólogo

Tarde de inverno. Céu turvo. A temperatura fria, mas agradável. Um vento frio acaricia meus pés. Olho para um livro histórico e psicológico. Lembro-me pela literatura como a Psicologia se tornou Imperatriz numa longa batalha científica de romance e divórcio.

Nos séculos a. C. a psique já imperava nos ensaios dos filósofos que naquele período viveram. A Psicologia, naquele momento, estudava filosoficamente, a alma; ela era instruída por questões e emoções que se embasavam no viver humano, sendo algumas questões centrais: “O que é o pensamento?” “O que é consciência?”; e a questão primordial: “quem sou?”. Aqui razão e emoção namoravam.

No decorrer histórico, com o advento supremo do cristianismo e demais religiões, estas muito contribuíram e muito utilizaram dos primórdios conhecimentos filosófico-psicológicos, sendo as personagens religiosas mais conhecidas São Tomás de Aquino, Santo Agostinho, entre outros.

Posterior a isso, denominando-se cientificismo, a razão impera levando a alma e suas sensações à senzala. O organismo, a matéria foi o objeto visível e empírico que poderia ser contestado, mas não destronado. Muitos filósofos ainda continuaram os estudos para não deixar os assuntos psíquicos serem condenados a mito. Muito contribuíram.

A Psicologia não é santa. Ela existe e há muitos anos teve interesses fundamentais para conseguir o trono de Imperatriz. No século XIX, simplesmente, com sua habilidade de observar, ouvir e compreender casou-se com a Vossa Majestade Razão, saiu da senzala e conseguiu o título de científica. Todavia, como nem todas as uniões matrimoniais arranjadas são de sucesso amoroso, se divorciaram; porém há familiares que tentam uni-los (ou pelo menos, transmitir a seus descendentes, a afetuosidade existente na intersecção Razão e Emoção). Contudo, uma vez, sempre Imperatriz.

Durante o matrimônio, a Psicologia era calada e emotiva, se utilizava do modelo médico e orgânico utilizado pelas razões em ética, conduta e em relação ao acolhimento, até que planejou e utilizou seu poder, sua criatividade, pois poderia ser mais sensível, da mesma forma quando conquistou o imperador.


Caracteristicamente, a maioria dos ‘tratamentos’ psicológicos sublinha a importância de que o ‘paciente’ assuma um papel ativo no seu tratamento e no estabelecimento de uma relação cooperativa, ao contrário do papel mais passivo que os ‘pacientes’ assumem no sistema médico (Andrade. In Angerami-Camon, 2002, p. 118, grifo meu).


Atualmente a Psicologia, Imperatriz em status científico, se encontra com mais de 125 anos. Está idosa, porém cada vez mais experiente. O Imperador Razão, uma múmia ambulante, às vezes se esquece de alguns assuntos significativos (como a emoção e uma conduta humanizada), e está mais preocupado com o orgânico. O medicamento o guia.

É fato que ambos se divorciaram por um simples motivo: a falta de diálogo. Ambos poderiam se auxiliar, mas não foi por falta de tentativas. A Psicologia tentava conversar, mas a Ciência Orgânica sempre ficava de pensar; ingeria Benzodiazepínicos e...

Sempre ouvi de familiares e companheiros de atividades que não sabem como uma Conversa – ética e profissional – pode lhe auxiliar. Mas um medicamento, uma composição que aparenta ser mágica, rapidamente ingerida, saberia o que fazer. Esse é um raciocínio que não ouve, não percebe, não sente e também não consegue falar. Assim caminham, com química no sistema sanguíneo, significativos humanos. É notável que este pensamento se encontra cristalizado, mas não impossibilitado de ter uma outra conduta.

Com esse pré-conceito da humanidade, não sei por quanto tempo a ciência psicológica vai viver. Apenas sei, que em minha prática ela irá existir em cada palavra de mim emergida. A idade a faz ser tão madura e experiente, podendo em grandeza amparar. No entanto, as pessoas insistem que Conversar não resolve. A psicologia não é sua amiga, geralmente não é gratuita, mas ela é junto com outras abordagens e com seus vieses uma fonte inesgotável de produção de oxigênio; um medicamento natural.

Por isso, cabe lembrar Angerami-Camon refletindo sobre Merleau-Ponty:


Merleau-Ponty coloca que na verdade sabemos aquilo que a interrogação pura não deve ser; o que será só o saberemos tentando. O encontro é indubitável, pois sem ele não nos proporíamos nenhuma questão. Não temos que interpretá-lo, de entrada, seja como uma inclusão naquilo que existe, seja como conclusão daquilo que é em nós (2002, p. 50, grifo meu).


Nesse momento, cabe às pessoas compreenderem a importância desse profissional e a nós, profissionais, possibilitar uma Relação de auxílio e suporte no sentido de reestruturar o equilíbrio biopsicossocial de nossa profissão, não para que esta viva, mas para que ela continue Existindo.

Assim, possibilitar uma relação de olhar o outro, ouvi-lo e auxiliá-lo numa conversa metodológica, é extremamente importante e sabemos que isso é possível.

É uma possibilidade, da mesma forma que uma pequena semente, se cuidada e atendida em suas necessidades, poder crescer e criar galhos, folhas e até mesmo frutos; que pode, num inverno, por um momento, parecer sem existência, mas logo ser empiricamente visível seu Ser. Assim, também é o Ente.

A existência do ser humano é registrada e marcada por momentos contraditórios. O ser pode se alegrar e se entristecer; pode causar ruína, mas também pode criativamente construir.


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