domingo, 24 de outubro de 2010

A Scientia Sexualis e as Habilidades e Competências nas Relações Institucionais: Seu Problema, Nossa Consequência

Sobre habilidades e competências muito se teoriza, todavia pouco se compreende efetivamente. Habilidade é a capacidade de receber impressões, assimilar ideias, analisar, raciocinar, entre outros, e, é construída de acordo com o desenvolvimento humano; são condições a priori ao ato. A Competência, por sua vez, é o ato, a ação, é uma condição a posteriori da habilidade. Deste modo, por exemplo, se não possuo habilidades motoras desenvolvidas que me permitam dançar – a priori –, não atingirei uma ação competente para dançar – a posteriori. Por isso, em todos os ambientes em que se encontram pessoas, temos que trabalhar com o que já se possui: pensar e praticar a habilidade para atingir o resultado competente; e, se for o caso, desenvolver novas habilidades, ou aperfeiçoar as já existentes, para se alcançar outras competências ou adquirir maior grau nas atuais. Frise-se que, às vezes, nem todas as habilidades podem ser desenvolvidas em uma única pessoa; as habilidades, mais que as competências, são dependentes de condições psicofisiológicas.

Todos os setores institucionais, de algum modo trabalham com o pensamento de habilidades e competências. No entanto, elas são amplamente discutidas com mais intensidade nas linhas de montagens educacionais: as Instituições Escolares. Nestas, vive-se a indecência de se forçar desenvolver sem compreender, respeitar ou relacionar adequadamente; nelas todos os educandos deverão ao final da linha de montagem (séries escolares) possuir o mesmo nível de conhecimento, sendo este pré-estabelecido. Onde se encontram as singularidades das identidades e o respeito pelas diversidades culturais e intelectuais? Deveriam se complementar neste espaço! Porém, alguns educadores esquecem-se, eximindo-se do processo, de que nem eles próprios possuem todas as habilidades e competências, portanto, isto justifica o fato de muitos não compreenderem o desenvolver do Outro – profissional e/ou educando – gerando-se conflitos intensos.

Um tema de intenso debate educacional é o que se refere ao Sexo e Sexualidade. Escolas já afirmaram que sobre isto nada ou pouco pode ser mencionado. Todavia, é o que mais os educandos desejam saber e compreender, pois, estamos numa sociedade sexual – a mídia, por exemplo, já entendeu que para haver consumo o produto tem que se apresentar como sexy conquistando o consumidor, além do que, em nossa sociedade o sexo também se igualou ao conceito de entretenimento.

Em 1988, a TV norte-americana ABC produziu a série The Wonder Years. Esta apresentou questões sociais e eventos históricos do final da década de 1960 e do início dos anos de 1970, através do ponto de vista do protagonista, oferecendo ainda uma trama de problemas familiares e dados sobre a adolescência – conflitos, dúvidas, conquistas e a principal informação: que os anos adolescentes foram incríveis. Houve histórias de atração e sexo, mas eram mínimas, conscientes e responsáveis. Em 2010, a TV norte-americana MTV está apresentando a série The Hard Times of RJ Berger, evidenciando a vida atual de adolescentes em uma escola, sendo que a competência a ser atingida pelos alunos é o ato sexual, e detalhe: além dos discursos, os pais e responsáveis dos juvenis também são sexualizados; e, a adolescência, é considerada como terrível. A Revista Época publicou na capa da edição n. 624, de 01 de maio de 2010, a imagem de uma caixa de remédio sendo que este medicamento se chamava Sexo, com a seguinte manchete: “O Ministério da Saúde recomenda: Faça Sexo!”. Então, nos últimos 20 anos esse tema tem sido potencializado; “[...] vivemos numa sociedade em que a sexualidade é estimulada em termos de atrativos físicos e do ‘bom’ desempenho no ato sexual” (Picazio, 1998, p. 15), e também pelo fato do sexo ter sido objeto de estudo científico, assim novas descobertas são feitas e divulgadas, já que estamos na Era da Informação. “O homem ocidental aprende pouco a pouco o que é ser uma espécie viva num mundo vivo, ter um corpo, condições de existência, probabilidade de vida, saúde individual e coletiva, forças que se podem modificar, e um espaço em que se pode reparti-las de modo ótimo” (Foucault, 2005, p. 134). Entretanto, muita informação e pouca compreensão.

“A história da sexualidade se quisermos centrá-la nos mecanismos de repressão, supõe duas rupturas. Uma no decorrer do século XVII: nascimento das grandes proibições, valorização exclusiva da sexualidade adulta e matrimonial, imperativos de decência, esquiva, obrigatória do corpo, contenção e pudores imperativos da linguagem; a outra, no século XX; menos ruptura, aliás, do que inflexão da curva: é o momento em que os mecanismos da repressão teriam começado a afrouxar; passar-se-ia das interdições sexuais imperiosas a uma relativa tolerância a propósito das relações pré-nupciais ou extramatrimoniais; a desqualificação dos perversos teria sido atenuada e, sua condenação pela lei, eliminada em parte; ter-se-iam eliminado em grande parte, os tabus que pesavam sobre a sexualidade das crianças” (Foucault, 2005, p. 109).

No desenvolvimento púbere-adolescente, que atualmente está em todas as idades, se nota comportamentos e ações psicológicas de crianças-adolcescentes, adolescentes propriamente ditos e adultos-adolescentes – observe os designs e designers da moda que são em sua maioria teen e/ou sexy – e o tema Sexo e Sexualidade se tornou o ápice para o reconhecimento de suas habilidades sexuais singulares e para a criação das competências sexuais ímpares, sendo hoje uma situação de preocupação pública e social com referência à saúde humana em seus vários meios de estudo devido aos mitos, tabus e preconceitos existentes.

À vista disso, com a criação do termo Adolescente, e com o tempo, o historiador Philippe Áriès (1981, p. 15) já afirmou que “a adolescência expandiria, empurrando a infância para trás e a maturidade para frente [...] Assim, passamos de uma época sem adolescência a uma época em que a adolescência é a idade favorita. Deseja-se chegar a ela cedo e nela permanecer por muito tempo”. Ela é a representação, o símbolo da juventude, da beleza e do vigor humano.

Então, se esse tema não for desenvolvido nas escolas, neste público adolescente, independente da idade, mas dependente de metodologia adequada, há uma possibilidade maior que os educandos, por ausência de entendimento, amplifique os problemas de saúde pública relacionados ao sexo, e ainda, não compreenderão o conteúdo teórico-prático. Por quê? Pelo fato de haver um congestionamento no tráfego de informações, semelhante ao de automóveis nas metrópoles. As informações sexuais, hoje ampla e sutilmente divulgadas ficam estagnadas aguardando compreensões para serem organizadas, nisto o conteúdo em aula passa a ir para o final da fila ou nem isto consegue. E, também, já que “a adolescência é uma época em que os jovens criam e reformulam conceitos, principalmente os relacionados à sexualidade, se não souberem distinguir mitos, tabus, e preconceitos, podem incorrer no erro de adquiri-los como normas de vida, impossibilitando as alternativas mais saudáveis para que a vida afetiva sexual” (Picazio, 1998, p. 97).

Exemplo disso foi uma Conferência realizada numa escola do interior paulista, a pedido informal da instituição, sobre a temática, e foi denominada Sexo e Sexualidade: Uma Conversa Sexy. Os alunos do sexto ao nono anos foram requisitados em saber se possuíam interesse em conversar com psicólogos sobre o assunto. Imediatamente seus olhos se espantaram e abrindo um sorriso de alívio, surpresa e culpa, responderam afirmativamente. Suas dúvidas de forma sigilosa, sem a exposição de ninguém, foram recolhidas, subtematizadas e organizadas. Em dez salas do Ensino Fundamental deveriam ter sido aplicada, porém foram trabalhadas em apenas quatro salas, porque uma semana depois do início das atividades houve reclamações. Na data do evento, que os alunos aguardavam ansiosamente pela continuidade, os responsáveis pelos trabalhos foram comunicados que o trabalho deveria ser reformulado ou cancelado, pois o aspecto sexualidade e sexo anal – que eram dúvidas dos educandos – não poderiam ser abordados, já que as reclamações foram em tese, de acordo com as informações, de educadores religiosos. Nisto, entende-se que “[...] há coisas que se pode fazer, mas das quais jamais se pode falar. Ou melhor, há coisas que não convém fazer, mas pecado maior do que fazê-las é dizer-se que as fez. No silêncio, [acredita-se, que] as coisas não existem; se existiram, deixam de existir. A ação é tolerável, compreensível, até mesmo lícita. Mas a verbalização dela é reprovável, inadmissível [...]” (Nahoum apud Nunes, 2007, p. 63).

A curiosidade e o interesse dos educandos, que tanto se requisita, foram obscurecidas. “Desejar é ter vontade de, é querer ter, é curiosidade. A sociedade, em nome da moral e dos bons costumes, determina como as pessoas devem obter prazer na vida. O desejo de experimentar o sexo anal está associado à vontade de transgressão, a um desejo secreto de saber como é esse tipo de sexo, condenado por esses costumes morais e religiosos em nosso país, porém não é ilegal” (Nunes, 2007, p. 31).

“Parece que, por muito tempo, teríamos suportado um regime vitoriano e a ele nos sujeitamos ainda hoje. A pudicícia imperial figuraria no brasão de nossa sexualidade contida, muda, hipócrita. [...] A sexualidade é, então, cuidadosamente encerrada. Muda-se para dentro de casa. A família conjugal a confisca. E absorvê-la, inteiramente, na seriedade da função de reproduzir. Em torno do sexo, se cala. O casal, legítimo e procriador, dita a lei” (Foucault, 2005, p. 9).

E ainda referenciando aos protestos, “é comum considerar o sexo anal como relação praticada sempre entre os casais homossexuais, em relacionamentos sem compromisso ou com profissionais do sexo. Isto não é verdade. Poucas pesquisas têm sido feitas sobre esse assunto – sexo anal –, porém todas demonstram que, cada vez mais, casais heterossexuais fazem sexo anal e, muitas mulheres estão sentindo prazer intenso com essa relação. [...] O nosso dever é dar condições de informações sobre todas as formas de relações sexuais, assim como o fazemos com os métodos contraceptivos, que também estão deficientes de informação” (Nunes, 2007, p. 17-9).

As reclamações geralmente ocorrem em até três níveis: social, profissional, pessoal. A conferência possuía amparo legal e metodológico, tanto social quanto profissional, portanto, não havia argumentações que a impedissem. Então, a reclamação foi pessoal. Nesse sentido há equívocos. As instituições escolares trabalham com a diversidade e as condutas da comunidade escolar devem possuir respeito para com a diversidade de identidades e para com as informações. Isto não aconteceu; e, era adequado que houvesse uma reunião para discutir o assunto, sem prejuízo ao trabalho psicológico, todavia, os protestos, já eram julgadores e definitivos. Não houve comunicação, e sim, uma sweet e sutil sentença.

Frise-se que “somos diferentes um do outro, como cores diversas que podem se complementar de maneira harmoniosa. Heterossexuais, homossexuais e bissexuais são pessoas desejosas, todas elas, de expressar o seu amor. Compreender essa diversidade não significa aceitá-la como o caminho a seguir, porém tolerá-la como parte da existência humana. Falar sobre as diferentes manifestações sexuais não é um caminho para praticá-las, mas para exercer a sexualidade com respeito pela própria natureza e pela dos outros” (Picazio, 1998, p. 17). Apesar disso, entende-se que, “se o sexo é reprimido, isto é, fadado à proibição, à inexistência e ao mutismo, o simples fato de falar dele e de sua repressão possui como que um ar de transgressão deliberada. Quem emprega essa linguagem coloca-se, até certo ponto, fora do alcance do poder; desordena a lei; antecipa, por menos que seja, a liberdade futura. Daí essa solenidade com que se fala, hoje em dia, do sexo. Os primeiros demógrafos e os psiquiatras do século XIX, quando tinham que evocá-lo, acreditavam que deviam pedir desculpas por reter a atenção de seus leitores em assuntos tão baixos e tão fúteis (Foucault, 2005, p. 12).

Pelas informações comunicadas na Instituição onde se aplicou a conferência, em tese, afirmaram alguns educadores que os alunos não precisariam ficar sabendo do cancelamento do trabalho e que os coordenadores da conferência não precisariam informá-los da decisão. Mas, por educação e respeito pelo outro eles foram comunicados, sem se culpar ninguém. Eles ficaram irritados com a notícia, porém comunicá-los, ameniza conflitos; ameniza, mas não extingue. Portanto, há a possibilidade de haver uma amplificação de conflitos relacionais e comunicacionais, potencialização de violência física, verbal, psicológica, cultural, prejuízo ao patrimônio escolar, e, entre outros, problemas familiares, sociais, gravidez e até mesmo Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) levando a evasões e diminuindo os índices escolares.

“O que é próprio das sociedades modernas não é o terem condenado o sexo a permanecer na obscuridade, mas sim o terem-se devotado a falar dele sempre, valorizando-o como o segredo” (Foucault, 2005, p. 36). Assim, cancelando a conferência, e enterrando-o como segredo, valorizando-o como relíquia, o que ocorre? Uma caça ao tesouro; trilhas são criadas e marcas são deixadas.

“Consideramos os colégios do século XVIII. Visto globalmente, pode-se ter a impressão de que aí, praticamente não se fala em sexo. Entretanto, basta atentar para os dispositivos arquitetônicos, para os regulamentos de disciplina e para toda a organização interior: lá se trata continuamente do sexo. [...] O que se poderia chamar de discurso interno da instituição – o que ela profere para si mesma e circula entre os que a fazem funcionar – articula-se, em grande parte, sobre a constatação de que essa sexualidade existe: precoce, ativa, permanente” (Foucault, 2005, p. 30).

As instituições escolares, em sua maioria são autografadas por riscos e rabiscos, isto é, mensagens, pois se os educandos não são ouvidos, eles marcam e pressionam a serem escutados. Quando consequências acontecem as escolas estremecem, são como placas tectônicas em movimento, o que gera conflitos, confusões e gritos. Os habitantes do local gastam tempo e energia para se equilibrarem, por fim, expressam-se cansados.

A conferência era um pacote de discussão, informação e consciência que ia além do próprio tema, propondo ainda em evidência e com sutilidade: planejamento familiar, responsabilidade e respeito para com o Outro, valores sociais e familiares, comprometimento com as atividades escolares e para “salientar a importância das relações afetivas, bem como estar aberto à comunicação pessoal. Ajudar nossos alunos e filhos a compreender os comportamentos sexuais. Ensiná-los a valorizar a saúde. Compreender a nossa cultura, seus limites e seus direitos” (Picazio, 1998, p. 14). Alguns agentes institucionais se queixaram do tema, mas a importância está em como ele é desenvolvido e transmitido. Por consequência, em resposta, os educandos, ao final, preenchendo voluntariamente questionário, afirmaram:

- “Eu achei esse trabalho muito bom, tirou todas as minhas dúvidas. Obrigada por dar essa aula aqui.”
- “Foi muito bom e adorei. Eu não sabia disso que eles ensinaram. Foi interessante.”
- “Eu gostei muito. Bom trabalho.”
- “Muito bom, porque mostra as doenças perigosas.”
- “Eu gostei de saber sobre as doenças.”
- “Esse trabalho foi para ensinar todos.”
- “Vocês responderam claramente e ajudou muitas pessoas; eu tenho certeza. Vocês estão de parabéns!”
- “Eu achei muito legal o trabalho dos psicólogos.”
- “Vocês são ótimos psicólogos, a gente aprendeu muito mais. Obrigado.”
- “Eu quero outra aula porque eu gostei muito.”
- “Eu achei essa orientação ótima; pois todos aprenderam algo. Eu não tenho nem uma crítica contra o que eles disseram. Explicaram bem.”
- “A palestra sobre sexo foi muito importante, tirei muitas dúvidas sobre o assunto.”
- “Eu achei isso muito bom para a gente ficar consciente.”
- “Essa palestra foi muito importante porque está ensinando, ou melhor, avisando as pessoas não conscientes.”
- “Eu gostei, pois eles ensinaram muitas coisas para me proteger e para várias pessoas também.”
- “Achei muito bom, falaram coisas que no cotidiano não sabemos.”
- “Foi muito importante, porque outras pessoas só falam besteira”.
- “Foi muito legal, explicaram e responderam todas as minhas dúvidas. Se não fosse isso eu acho que nunca saberia. Eu já tive várias palestras, mas essa foi a melhor e deu detalhes importantes.”
- “Vocês estão de parabéns. Foi muito interessante. Continuem assim! Ajudaram-me muito!”
- “Eu achei um bom o trabalho, excelente. Eles podem continuar com esse trabalho.”

Antes de o trabalho ser interrompido, 101 alunos, de 6º e 7º anos conseguiram participar da conferência. Destes, 96 responderam ao questionário: 82,29% consideram o trabalho interessante e importante para suas vidas. O restante, 17,71%, considerou como razoavelmente, por já possuírem conhecimento, sendo que outros ainda não sabiam afirmar, no momento, sobre a importância, porque eles estavam organizando as informações, visto que as pessoas somente captam informações que são condizentes com seu desenvolvimento psicossocial – portanto, não sendo o trabalho prejudicial; e, 97,92% afirmaram que o desempenho dos psicólogos ficou entre Bom e Muito Bom.

Os protestantes e a instituição não previram nem discutiram os possíveis benefícios e consequências. O tema, Sexo e Sexualidade se tenta camuflar, silenciar. Porém, ele está em todos os lugares, e como escreveu o escritor português, José Saramago: “não se ganham batalhas de hoje com armas de ontem”. Enfim, a própria escola solicitou o tema; cancelou, e subliminarmente afirmou: “problemas deles”. No entanto, o problema pode até ser deles, mas as ações desses problemas – as consequências – são de todos nós. Imagem clássica disso é a economia mundial, pois quando acontece alguma crise em algum país de potência, todos os outros são influenciados. Existimos numa teia, o que acontece num ponto é amplificado gradativamente.

Em tal caso, aos nobres julgadores, das diversas instituições existentes no mundo, um recado poético: “se mergulharmos um copo num oceano e nós o olharmos e ele não contiver peixe, qual a nossa conclusão? Seria de que não há peixe no oceano? Ou de que é o oceano muito vasto e nosso copo não contém uma boa amostra dele? Sequer olhamos. Mal começamos a procurar. Devemos fazer um trabalho muito melhor antes de tirarmos conclusões extraordinárias!”

Cada ente se desenvolve e se amplia como uma enciclopédia; esta contém informações diversas e muitas vezes conflitantes. Porém, ao se ampliar excessivamente, sem compreensões ou com entendimentos equivocados, muitos resolvem se particularizar e criam o seu próprio livro; alguns o chamam de Diário, Autobiografia, Orkut, Facebook, My Space, entre outros. É aí que muitas vezes podem se encontrar as “conclusões extraordinárias”, pois muitos criam seu próprio livro e o consideram como a Verdade, excluindo-se muitas informações. Quando se valoriza demasiadamente um único livro, isto é, o seu, se esquece da enciclopédia. Pertencer à enciclopédia ou ser uma extensão ainda vinculada a ela permite que as pessoas não percam a consciência da diversidade (de informações) e de como compreendê-la e com ela trabalhar.

“Dessa maneira, a educação poderia deixar de ser esta farsa onde cada um tem do outro uma imagem mais ou menos falsa e seria facilitada à medida que o educador soubesse enriquecer sua personalidade. Em última análise, repropomos a cultura interior da personalidade, o cultivo do eu pelo eu. O educador pode alcançar este resultado por meio de uma higiene intelectual e de uma disciplina afetiva tais, que se pode chegar a dizer que cuidar do educador é muitas vezes, a melhor solução do problema [(...); principalmente porque ele] não soube evoluir com seu tempo para se colocar no lugar do jovem que hoje tem diante de si. Se despreza os jovens, é porque tem saudades de sua própria juventude. Daí para a acusação de inveja, não há senão um passo. É-lhe necessário depreciar, por despeito, nos outros, esta juventude que não reencontrará jamais. Além disso, por falta de coragem, por medo do ridículo, por preguiça de espírito e de coração, ele se recusa a frequentar os jovens, a viver sua vida. É por isso que os conhece de fora, [...] a advinha-los através de jornais e de livros. Podemos assim verificar que, quanto mais o educador envelhece na carreira, mais ele está ameaçado de uma esclerose sentimental que o impede de se renovar. [...] As relações entre o educador e o adolescente se orientam, então, para a hostilidade e para uma agressividade cada vez mais acentuada. Quanto mais o adulto despreza o jovem, mais este último reage com vigor, distinguindo-se por sua atitude de negação. Frente ao adulto que não o compreende, o adolescente diz ‘não’ à sua moral, ‘não’ a sua experiência. Exagerando mesmo sua atitude de oposição, busca o escândalo, acusando o adulto, mais ou menos injustamente, de traição e comprometimento. Seus propósitos desabusados e sua atitude agressiva não são senão uma espécie de movimento de defesa contra os costumes que o chocam. Por reação, chega até a estragar sua vida, de propósito, para ‘aborrecer’ os que pretendem moralizá-lo. Ao contrário, esta oposição desaparecerá se o adulto consentir em descer de seu pedestal e abandonar seu conforto para caminhar um pouco com os jovens. Reconhecemos que esta experiência não é fácil. Não abordamos os jovens como se representássemos a perfeição moral e intelectual. Eles se sentem, pelo contrário, bem mais próximos quando descobrem, em nós, esta espécie de inquietação dos seres que não se julgam perfeitos e que buscam seu caminho com lucidez e simplicidade. O grande erro é se aproximar dos jovens para viver com eles, mostrando-lhes uma atitude predicante moralista que, incansavelmente nos leva a repetir: ‘É preciso fazer isso, é preciso fazer aquilo; olhe para mim, faça como eu’, tudo isso acompanhado de mil preceitos morais. Eles, então, perdem imediatamente a confiança. Rapidamente nos desmascaram com sua intuição, sua sutileza extraordinária, sua acuidade psicológica que põem a descoberto nossa hipocrisia” (Marchand, 1985, passim).

“A maior falha de qualquer processo educacional é querer domesticar os educandos, acomodá-los, fazê-los repetir o professor ou os pais, impedindo-os de criar, tornando-os meros repetidores ou armazenadores de conserva cultural. Educar é desenvolver uma consciência crítica que permite ao homem transformar a realidade. Na medida em que respondem aos desafios do mundo criativamente, constroem sua própria história” (Baptista, 1998, p. 175).

À vista disso, como aprendemos e convivemos com valores, disciplinas escolares e informações gerais em todas as Instituições? Ora, é através da compreensão do sistema de comunicação relacional advindos dos códigos-mensagens (aspecto de práxis), que na atuação são as habilidades e competências (aspecto prático). Todavia, para compreender, as informações, elas devem ser respeitadas, organizadas e manifestadas com objetivos coletivos. “Se o homem é ignorante, torná-lo sábio é educar. Se o mundo é injusto, torná-lo justo é educar. Porque o mundo não se reforma por estruturas que os homens inventam e eles mesmos corrompem. O mundo só se reforma pela reforma do homem um a um” (Bittencourt apud Picazio, 1998, p. 13).


Um comentário:

  1. Artigo elaborado com a colaboração de Rosângela A. Nogueira de Freitas Bianco, Psicóloga, CRP n. 06/99.829.


    REFERÊNCIAS

    BAPTISTA, M. C. V. D. A família na educação. Revista Linhas Críticas, v. 4, n. 7-8, Brasília: UnB, jul./jun. 1998-9, p. 175-80.

    CONSELHO Federal de Psicologia. Psicologia e diversidade sexual em debate. Disponível em: http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/noticias/noticias_100622_001.html. Acesso em: 29 jun. 2010.

    FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. 16. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2005.

    GRUPO pela vida. Vista a camisinha. Disponível em: http://www.camisinha.org.br/vista.shtml. Acesso em: 19 jun. 2010.

    MARCHAND, M. A afetividade do educador. 4. ed. São Paulo: Summus, 1985.

    MOSAICO Brasil. Pesquisa investiga vida sexual em São Paulo. 25 nov. 2008. Disponível em: http://ccsp.com.br/ultimas/noticia.php?id=36240. Acesso em: 13 jul. 2010.

    NUNES, C. S. Sexo proibido: a história do sexo anal nas relações heterossexuais. Rio de Janeiro: Litteris, 2007.

    PICAZIO, C. Sexo secreto: temas polêmicos da sexualidade. São Paulo: Summus, 1998.

    REVISTA Época. O Ministério da Saúde recomenda: faça sexo. Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI137360-15228,00-O+MINISTERIO+DA+SAUDE+ RECOMENDA+FACA+SEXO.html. Acesso em: 24 jul. 2010.

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