quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Promessas Ígneas





Certa poesia expressada constrói um caminho incandescente com o grito de um lamento do passado que emerge de obscuras lacunas e expelem ao Outro uma composição de recompensa e promessa.


Dê-me um segundo
Preciso acertar minha história [...]
Meu amante me espera do outro lado do bar
Meu assento está tomado por um óculo escuro
Perguntando por cicatrizes

Eu sei o que lhe dei há meses
Sei que está tentando esquecer
Mas entre a bebida e as coisas sutis
Os buracos em minhas desculpas
Sabe que estou tentando voltar atrás [...]


A promessa somente advém de seres desesperados; o prometido oferece às pessoas dissolvidas no espaço psicossocial o que elas desejam; assim, elas fácil e antecipadamente retribuem com ações. Com isso, frise-se que o poder não se encontra na sentença asseverada, mas na submissão de pessoas não integradas que desconectadas de possibilidades, acesso e oportunidades se reduzem em fragmentos permitindo que seus estilhaços sejam vinculados por esperanças.

A promessa é magma ígneo; sem limites atravessam pensamentos que outrora escavados por ácidos morfológicos e fonéticos reconfiguram as histórias mnemônicas e consequentemente as práticas delas sintetizadas, criando ícones insanos, habituando os sentidos e a inteligência, favorecendo a inércia.

Nesse sentido, transpor desse estado é estar consciente quanto à mágica manifestação enlevada do ato verbal e de escrituras; é simultaneamente, desenvolver a identidade integral do ente, portanto, substituindo a atual nutrição do pensamento pelo composto de possibilidades, acessibilidades e oportunidades.

O pensamento não é sentença e sim um flexível ato em processo; um fenômeno ativo, vinculante, deste modo, que favorece o reestabelecimento da compreensão de que sonhos e desejos – sutilmente empacotados pela promessa – não são para serem realizados, e sim, fontes existenciais de inspiração, promovendo o ser que olhava a vida pela janela e vivia na escuridão para efetiva e poeticamente expressar:


A calma noite que flui ao meu redor
Penetra através das portas de ferro da sua prisão
Livre pelo mundo seu espírito vai
Mãos proibidas prendendo as suas
O vento é nosso aliado
A noite deixou as portas entreabertas
Vamos nos encontrar além do portão da Terra
Onde todos os rebeldes estão.

Não fique no meu túmulo a chorar
Eu não estou lá
Eu não morri.



2 comentários:

  1. Joaquim, qual o nome e o autor do segundo poema?

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  2. Olá.

    Katryn, obrigado por me informar a ausência de referências. O primeiro são trechos da música "You Are Young" (Fun); o segundo é uma poesia expressa na obra cinematográfica "Song For a Raggy Boy".

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