sábado, 2 de janeiro de 2010

Senhores Deprimidos

Muitos seres devem saber, por experiência, que é difícil participar de lugares sociais que não sejam totalmente domados pela prostituição instituída, principalmente em vilarejos.

Uso com sarcasmo o verbete vilarejo. Uma das teorias é que o termo deriva-se do grego referindo-se aos aldios e aldias, ou seja, aldeãos e aldeãs; eles eram uma espécie de semi-servos, porém recuperaram quase totalmente sua liberdade; mas, o sarcasmo advém do fato de muitos se viver em vilarejos atualmente, sendo totalmente servos e sem nenhuma liberdade, acreditando que a tem. “Quando você é jovem, tudo parece o fim do mundo, mas não é. É só o começo”.

Nos vilarejos do interior ou metropolitano, a inexata idéia de liberdade e de pura escravidão é fantasticamente constatada nas danceterias, raves, pvts e festas diversas, onde o consumo exacerbado de álcool e drogas naturais ou sintéticas está alarmante causando preocupação de saúde pública.

O alcoolismo é comumente definido para pessoas que tenham um consumo consistente e excessivo de produtos que contenham o álcool, que também possuem conflitos no ambiente social e na saúde emocional, e até mesmo uma predisposição genética para ocorrência do fato. Tal manifestação sempre interfere acentuadamente na vida pessoal, familiar, social e profissional da pessoa causando alterações psíquicas e físicas, bem como paralisação dos sinais vitais por diversas condições consequenciais diretamente do abuso alcoólico.

Além do álcool, existem outras drogas. Elas estão classificadas em três categorias: as perturbadoras, as estimulantes e as depressoras; todas relacionadas às ações mentais. O termo é amplo e envolvem barbitúricos, tranquilizantes, alucinógenos, estimulantes e analgésicos, bem como o citado álcool e demais substâncias de fácil acesso, podendo ser naturais ou sintéticas.

Em geral, drogas (também conhecidas como entorpecentes e narcóticos) são termos que se referem às químicas que geram modificações nos sentidos, em que as psicotrópicas, molestam o Sistema Nervoso Central (SNC), alterando as faculdades comportamentais e psíquicas.

Por aproximadamente quatro anos, acompanhei um grupo de dependentes químicos. Foi uma contribuição mútua. Em seus relatos, podíamos observar, juntamente com seus sentimentos, a alienação causada pelos componentes químicos. Todos podiam relatar suas experiências, sejam elas pessoais ou profissionais. O dialogar imperava e auxiliava no suporte psíquico. Ali participavam os adictos, familiares, acompanhantes, os coordenadores e o público em geral interessado na temática. Em sua maioria, eram pessoas consideradas pela sociedade, como ignorantes, todavia eu não as substituía por um tratado médico; este apenas me auxiliava como complemento. Possibilidades diversas nós compartilhamos e as aproveitamos.

Como relata uma música internacional, “[...] os tigres vêm à noite, com sua voz baixa como o trovejar [...]”, e geralmente, é à noite que os tigres químicos vêm, com sua voz persuasiva, encantando, os adios e adias que se dizem modernos. Ainda escravos, estes visitam casas noturnas (ou até mesmo diurnas), apenas para comparecerem e se exibirem; alienados, também pelo hedonismo, não se sentem, são desprovidos de atividades mentais regulares e não criam seus próprios espaços; unicamente, caminham como autômatos programados, dispensando possibilidades de práxis existenciais, em outras localizações em que possam usá-los adequadamente para criar diálogos como senhores fidedignos de existência, e não como subservientes de indiferentismo moral, político, sócio-cultural e intelectual, isto é, promovidos com distração.

Nestas situações de existência que impera na sociedade, agora instruídos por Facundo Cabral – compositor, cantor e escritor argentino –, lembre-se que


Não estás deprimido, estás distraído. Distraído em relação à vida que te preenche. Distraído em relação à vida que te rodeia: golfinhos, bosques mares, montanhas, rios. Não caias como caiu teu irmão que sofre por um único ser humano, quando existem cinco mil e seiscentos milhões no mundo. Além de tudo, não é tão ruim viver só. Eu fico bem, decidindo a cada instante o que desejo fazer, e graças à solidão [...] Não faças o que fez teu pai, que se sente velho porque tem setenta anos [...] Não estás deprimido, estás distraído. Por isso acreditas que perdeste algo, o que é impossível [...] Além disso, a vida te tira coisas: te liberta de coisas. Alivia-te para que possas voar mais alto, pra que alcances a plenitude. Do útero ao túmulo, vivemos numa escola; por isso, o que chamas de problemas são apenas lições. Não perdeste coisa alguma [...] Não existe a morte... apenas a mudança [...] Não faças coisa alguma por obrigação ou por compromisso, apenas por amor. Então terás plenitude, e nessa plenitude tudo é possível sem esforço, porque és movido pela força natural [...] Reconcilia-te contigo, coloca-te frente ao espelho [...] e decide neste exato momento ser feliz, porque a felicidade é uma aquisição. Aliás, a felicidade não é um direito, mas um dever; porque se não fores feliz, estarás levando amargura para todos os teus vizinhos. [...] Podemos experimentar a neve no inverno e as flores na primavera, o chocolate de Perusa, a baguette francesa, os tacos mexicanos, o vinho chileno, os mares e os rios, o futebol dos brasileiros, As Mil e Uma Noites, a Divina Comédia, Quixote, Pedro Péramo, os boleros de Manzanero e as poesias de Whitman; a música de Mahler, Mozart, Chopin, Beethoven; as pinturas de Caravaggio, Rembrandt, Velázquez, Picasso e Tamayo, entre tantas maravilhas. [...] Não estás deprimido, estás desocupado. [...] Ama até que te tornes o ser amado; mais ainda converte-te o próprio Amor. [...] O bem é maioria, mas não se percebe porque é silencioso. Uma bomba faz mais barulho que uma carícia, porém, para cada bomba que destrói há milhões de carícias que alimentam a vida [...]

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