segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Para Uma Educação Ampliadora

A arte de ensinar é milenária. Seja no público ou no privado. Seja por pais ou titulados professores. As pessoas nos primórdios eram convidadas a refletirem. Anos se passaram e termos bem como conceitos foram ampliados e outros revogados: professores, em suas próprias palavras, não suportam presenciar alunos e nem estes àqueles.

Ouso perguntar: existe vida depois das aulas? Penso e vejo que não; apenas uma existência raquítica se mantém.

A instituição “atualmente” deixou a flexibilidade da práxis e passou a ser sintética. Tudo está pronto, industrializado e não se entende para que todas essas disciplinas. Há alunos que discutem entre si, bem como professores que fazem o mesmo; o pessoal e o profissional se alienam.

A maioria, dos professores está cansada. Reclamam dos salários vergonhosos, e de que os alunos não possuem respeito. Porém ouço também alunos dizerem o mesmo: há professores que não os respeitam. Já escutei discentes afirmarem que passam o dia numa jaula. Sim, são tratados como animais! Outros ou os mesmos professores, afirmam que há excelentes alunos; e outros ou mesmos alunos dizem que existem excelentes professores. Qual a queixa?

É evidente que não existem pessoas iguais. Logo, nas instituições educacionais, conviverão pessoas de diferentes etnias, culturas e valores, por horas, em um ambiente que se assemelha a um campo presidiário. Alguns são agressivos, outros quietos e outros ainda verborrágicos. O aluno e o professor tão esperados, aquele que entra magicamente pelo portal educacional, e ativa seu chip do conhecimento, não é vital; não há seres prontos; todos estamos em constante ampliação. Nesse sentido, é braçal o trabalho do professor de plantar sementes e cuidar para que germine.

Existem como afirmado, distintas pessoas num mesmo espaço; cada uma possui seus próprios valores e interesses que podem ser semelhantes e acabam construindo grupos. O professor tem que saber aproveitar a oportunidade e criar possibilidade de cada aluno atuar de sua forma, respeitando as outras atitudes. Existem os que falam mais e os que são retraídos, todavia ambos podem aprender o mesmo, depende de como as informações são transmitidas. Se em uma sala, o professor possui trinta alunos, ele tem que ser trinta possibilidades, para poder atender a todos. Todavia, os alunos também têm que existirem naquele espaço, em mesma quantidade possível, para poder compreender seus confluentes e respeitá-los. Isso se constrói, cria-se, possibilita-se.

Penso que a quantidade de alunos em “salas de aula” deveria ser gradativa do primeiro ao nono ano. É interminável a quantidade de alunos que seguem seus anos escolares sem serem alfabetizados, e os professores se justificam afirmando que existem muitos alunos e às vezes não conseguem atender a todos. Até a nona série, gradativamente, deveriam constar, por experiência, vinte e três alunos no máximo. No ensino médio, os números poderiam ser constantes, no máximo vinte e nove, visto que é um ambiente mais reflexivo e comunicativo.

Observo que, além da reorganização e da falta de real interesse educacional, as carências são de comunicação, respeito, amor e criatividade. Ser professor é ser criativo, é criar é recriar; é ser artista.

“Escritores da Liberdade” é um filme que estreou em 2007. Ele é baseado no aclamado best-seller “O Diário dos Escritores da Liberdade”. Para todos os envolvidos e sensitivos da educação, assistir é se emocionar; é surpreendente, a real história, vivida com garra e determinação de uma professora que teve que enfrentar sabia e amorosamente um sistema alienante, preocupado com a quantidade e não com a qualidade, para poder oferecer espaço, uma voz própria, a seus estudantes adolescentes criados no meio de tiroteios e da agressividade. Quando vai lecionar numa escola corrompida pela violência e tensão racial, a professora Erin Gruwell combate o sistema deficiente, lutando para que os discentes de sua turma façam a diferença em suas próprias vidas e não na lista classificatória do Sistema. Agora, contando suas próprias histórias, e ouvindo as dos outros, uma turma de adolescentes antes sem projetos descobrem o poder da tolerância, recuperando suas vidas desfeitas e mudando o seu mundo.

Numa instituição, durante o trabalho psicológico com grupos de alunos, foi impossível não notar, na maioria, o interesse por conhecer e por conversar. Dialogar sobre assuntos que os incomodavam era possibilitar espaço para novas apreensões, o que permitia também envolvê-los no contexto temático proposto. Sentiam-se livres, pois podiam falar, todavia aprenderam também a ouvir outros posicionamentos. Em sua maioria, eram alunos considerados perturbados, porém se demonstraram autênticos filósofos.

O Sistema é alienante. Seja no Ensino fundamental, médio ou universitário; particular ou público. Eles são destruidores e não construtores; visam a quantidade e não a qualidade. Portanto, cabe a todos plantar e cuidar de seu espaço educacional, não apenas na instituição, mas EM TODOS OS ESPAÇOS, certo de que todos são educacionais.

Ficar hora após hora, sentado, ouvindo, copiando, apenas virando páginas, trocando de apostilas e respondendo exames, bloqueiam o pensamento e a prática, por isso, há mais risco de ficar idiota convivendo com retardatários instituídos do que ser contaminado convivendo com enfermos que podem tranquilamente estar com outras pessoas.

Os estudantes e suas famílias, bem como os centros educacionais, sempre tiveram necessidades, mas seria excelente que eles pudessem ser ouvidos mutuamente e que houvessem, constantemente, espaços e interesse passa isso, e não um faz de conta.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...