segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

As Organizações do Trabalho

Existem vários estudos, produzidos ou que se encontram neste processo, que direcionam seus leitores a compreenderem, em algum momento de suas linhas, que vivemos para o trabalho.

Desde a infância somos alcançados por essa condição que permeia a existência vital humana; desenvolvemo-nos para trabalhar. Lembro-me de que com oito anos iniciei meus traços de trabalhos filosóficos; e em outros momentos, inventava: aquilo que possuía já pronto, os desfazia para poder criar.

Aproximadamente com uma quinzena de anos, passei a estabelecer uma conexão social com o trabalho, em que oportunidades não faltavam. Dizem que possuo o dom da inteligência, porém sei como criei uma habilidade diferenciada e entendo qual é o interesse humano. Desenvolvi-me em intensos anos exercendo e criando contabilidade, política e direito, além de outras pequenas inovações em trainee que, usando protocolos próprios, eximia-me de regras institucionais.

Atualmente as empresas querem empreender, todavia não entendem esse processo. No século XXI, utilizam-se do Treinamento, porém não entendendo o que ele significa. Buscam o lucro, mas se a empresa visa lucro, para este ser atingido, necessita-se, de gastos, este é o processo financeiro. O dinheiro é movimentável, ilude-se quem quer colocá-lo num cofre; ele não é um mero enfeite, é como o precioso anel da trilogia do Senhor dos Anéis: um instrumento que confere poder absoluto a quem o possuir, porém, há ainda as divergências internas e a influência corruptora do próprio anel ou, no caso, do próprio símbolo comercial.

Nestes rituais trabalhistas, em um de meus contatos e contratos, havia uma organização, que em meu primeiro ponto de vista era impressionante; ao entrar, tive a sensação de que era o local perfeito. Porém, aos passarem os segundos, minutos e horas, observando e sentindo o clima algo incomodava; estava colocando a perfeição em dúvida, simplesmente porque o design é uma maquiagem, usada para enfeitar o que não se deve mostrar; ali havia uma grande caldeira.

No diagnóstico organizacional se obteve muitos pontos que precisavam ser observados. Alguns meses depois, cada vez com uma conexão acentuada na instituição a dúvida se iniciava a obter respostas, visto que, por lógica, onde há o problema, também percorre a resposta.

Conversando profissionalmente com quase todas as dezenas de funcionários, a maioria, sobre a psicologia diziam que ela era importante. Frise-se que para a empresa era, duvidosa esta categoria profissional. Havia, portanto, a seguinte situação: uma empresa sutilmente amordaçadora, buscava o produto baseado num passado bagunçado, corrompia a criatividade dos funcionários (até mesmo sem perceber), havendo ainda um intenso processo de contratação-demissão, e alguns funcionários com possíveis situações iniciais ou intermediárias de lesões orgânicas.

O resultado momentâneo: falta de comprometimento e criatividade, pois utilizavam um trabalho produtivo e reprodutivo, permeado de design e uma tolerância pela necessidade de salário. Era como um motor de carro de 1929, num modelo do ano. Obviamente que não posso generalizar; havia poucos funcionários que eram criativos, e eram calados, tendo em vista que ouvi que todos devem parar de conversar e trabalhar mais; porém o projeto era reposicionar a psicologia, introduzindo-a no trabalho, estimulando a criatividade pela indagação, reflexão e experiência sensitiva (não dinâmica), em grupos, com o objetivo de pensar o trabalho.


[...] a linguagem é aquilo que, para todos nós, “poetiza e pensa”, bem antes do próprio indivíduo começar a pensar (Binswanger. “O Sonho e Existência”, 2002, p. 417).


A psicologia nas organizações quando aceitáveis são vistas como complementos, um adendo ao horário de trabalho que já é intenso. Ali, foi aplicada uma proposta em que a psicologia não invadiria espaços de almoço, pré ou pós-expediente; a psicologia, junto com outras atividades, eram momentos e faces do trabalho. O projeto grupal era uma experiência inovadora, porque apenas se fazem treinamentos e palestras: pura borracha teórica. O grupo, em suas diversas manifestações foi constituído para reflexão e planejamento de metas de resoluções, estimulando a criatividade e inovação, ofertando poder, não se eximindo da essência e dos valores empresariais, pelo contrário, intensificando-os; e como conseqüência, ramificando-os para as condutas pessoais, unindo o que estava disperso no interior do ser humano.


Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis (CALVINO, 1990 apud ROSATO, 2005, p. 652).


Goethe sabia disso e muito melhor do que a maioria dos nossos psicoterapeutas contemporâneos. Lembre-se somente as palavras que ele põe na boca de Parmênides, em Os sábios e as gentes:


Adentre em si mesmo. Se não encontrares ai
O Infinito no espírito e nos sentidos
Nada no mundo poderá ajudá-lo.

(Binswanger. “O Sonho e Existência”, 2002, p. 444).


O desenvolvimento do trabalho foi magnífico; porém apenas aos olhos e atitudes dos funcionários e dos coordenadores das atividades. Foi possível realmente estabelecer uma práxis, fornicando a construção de um ideal pragmático e vanguardista para o ramo daquela instituição. Todavia, como exposto acima, por processos produtores e reprodutores, as portas criadas foram sutilmente fechadas, pois havia outros planos administrativos: não utilizar as portas, mas o alçapão.

Em muitos locais, o trabalho ainda é abusivo, com o interesse maquiado de um ofício como o início das fábricas industriais. Todavia, uma mão humana possui 27 ossos e dezenas de ligamentos, músculos e tendões. O cérebro é composto, além de outras células e órgãos, por cerca de 100 bilhões de células nervosas, conectadas umas às outras e responsáveis pelo controle de todas as funções mentais. As pessoas trabalham não apenas com as mãos, mas com o pensar, que as direcionam.

A atividade da psicologia, numa empresa, mesmo que como contratação, não é controlada pela gerência. Ela é parte e um dos guias da equipe; é como a lua e suas fases: na fase cheia, ilumina para observar, planejar e guiar em suas diversas metodologias, e na fase nova, com a escuridão, avalia, mas ainda está presente. Onde há humano, deve existir o psíquico, porque


[...] você dirige um carro. É uma máquina que você controla com o objetivo de chegar ao lugar que deseja: o carro o levará até lá. Todavia, não se dirige uma planta para fazê-la crescer. Da mesma forma, diríamos nós, os líderes não dirigem suas organizações. A organização é uma comunidade humana. É um sistema vivo, como o é uma planta ou um adolescente. Não há ninguém dirigindo-a. Mas há muitas pessoas cuidando do jardim (BRAGA FILHO, 2003, p. 13-4).


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