domingo, 20 de dezembro de 2009

Recantos de Experiências

O Ente é um ser sensível e racional, um humano passível de experimentar modificações ampliadoras.

Cientificamente, a experiência é um contato epistêmico que usualmente é perceptual e característico com aquilo que se apresenta a percepção, a memória, a imaginação e a introspecção. A experiência é o contato direto com certo conteúdo: ao olhar para uma árvore, cada um tem uma experiência característica de uma árvore; ao visualizar um carro, experiencia-se particularmente um carro; ao ouvir uma música, prova-se singularmente aquela música.

Assim, experienciando, e. g., quando entro em uma biblioteca pública ou particular, ao passar pela porta, sinto de imediato outro ambiente. No ambiente externo encontravam-se pessoas alvoroçadas, correndo, comprando, vendendo, discutindo, crianças chorando... variadas fisionomias, diversas experiências existenciais. No novo ambiente que entrei também encontro diversas pessoas e distintas existências; todavia, são personagens serenos que estão num local inteiramente tranqüilo, o que lhes possibilitam abrir seus sentidos e pensamento e absorver integralmente as idéias contidas num livro, revista, ou até mesmo numa pesquisa virtual, bem como em qualquer que seja sua atividade.

Por mais assustador que possa parecer para alguns de meus amantes, um local que irregularmente me apresento são os edifícios religiosos. Há alguns meses estive em um, e por lá fiquei umas duas horas, lendo um livro sem credos, devoção e sacramentos. Além de entrar em contato com a obra, pude observar pessoas que também entravam em um local à procura de ausência de turbulência para sentir a si mesmas, bem como a estética daquele espaço físico que para alguns é transcendental.

Entende-se que a experiência estética é decorrente de uma atmosfera afetiva, porque o ente capta cognitivamente as situações que o rodeiam através dos seus sentidos, manifestando possibilidades de sentimentos, e valorando o que contemplam.

Naquele templo, por intensos momentos alguns integrantes me observavam com aparente desdém, pois sabem que não sou religioso e havia a possibilidade de me expulsarem, visto que já vi em muitas celebrações o extermínio de alcoolistas e de moradores de ruas, que em suas compreensões, aparentemente poderiam insultar Deus ou até mesmo incomodar os pop-stars da moda que ali se encontravam: uma espécie de heresia moderna.

Durante minhas horas de residência naquele local de adoração, senti pessoas totalmente devotas, mas também sofredoras. Algumas buscavam perdão outras solicitavam proteção e auxílio contra enfermidades e crenças diversas, cada um com a sua petição de fé; e em alguns casos barganhavam com promessas. Nestas sensações, pude acompanhar durante o tempo que permaneci naquele castelo reinante, dois atores sociais que existiam sem lugar efetivo. Eles não possuíam endereço, documentos, e estavam abandonadas na e pela sociedade, porém nela existem. Como ficamos naquele local pelo mesmo intervalo de tempo eles me olhavam constantemente. Eu, sentado sempre ao fundo, continuando atenciosamente minha leitura e eles, localizados medianamente, e em extremos, cansados, várias vezes dormiam, constantemente sussurravam e experienciavam o local, podendo sentir-se protegidos, valorando-o como um espaço de abrigo e paz, até que outrem moral pudesse vir os incomodar.

Como sou um ente de existência universal, pode parecer estranho para muitos eu estar num local religioso. Contudo, para mim, é apenas um ambiente e o aprecio pela tranqüilidade quase inexistente na atualidade, e que oportunizam para as pessoas a se encontrarem e estarem em contato consigo mesmas, podendo até experienciar o seu ser só. Raramente frequento, porém ali, diurnamente comparecem existências sinceras de amor, todavia, às vezes hiper-dependentes. Apesar disso, é um dos recantos de experiências que possibilitam ao ser possuir um temporário espaço para momentos felizes, favorecendo aprendizado (registros existenciais) e modificações ampliadoras, e uma possibilidade de práxis para empregarem o verbo transitivo direto: Criar.


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