terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Simplesmente uma Amante Criativa e Feliz

A Família é considerada a unidade básica da sociedade e é formada por indivíduos com ancestrais em comum ou ligados por laços afetivos.

Considerando isto, durante a aplicação de um projeto realizado com pessoas em tratamento oncológico, para Formação de Grupos de Apoio, a todo o momento foi resgatado pelo próprio enfermo ou acompanhante o seu histórico familiar: situações existenciais e não exclusivamente o diagnóstico de câncer ou a possibilidade deste.

Entende-se que a Cancerologia é também chamada de Oncologia, e é a especialidade médica que estuda os tumores e a forma de como essas doenças se desenvolvem no organismo, buscando seu tratamento. Cada tipo de câncer tem seu tratamento específico, sendo atualmente, inúmeras as possibilidades. Na oncologia atual é de suma importância o tratamento multidisciplinar, envolvendo médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas e muitos outros profissionais, devido à complexidade dos casos e da preocupação existencial com o ser humano.

Neste Projeto desenvolvido, minha amiga e eu, conjuntamente, tivemos a oportunidade de encontramos uma senhora que, sem inibição aparente, declarou parte de seu histórico existencial ao grupo ali estabelecido. Infelizmente ela foi interrompida, pois teve que ir para o atendimento médico, mas para nossa surpresa e total acolhimento, ela voltou e, continuando, nos contou por longos e agradáveis momentos a sua história. Importante esclarecer que o tratamento não é para ela, mas para um de seus familiares.

Em sua história, relatou que teve um total de dezoito irmãos, sendo que quatro faleceram, porém seu pai não chegou a conhecer o último, visto que ele se ausentou de casa quando sua mãe ainda estava grávida, sem mais noticiar sua existência. Residindo no nordeste, nos relatou o quanto ela, os irmãos e a mãe sofreram pela perversidade de seu pai, porque apanharam muito. Essa senhora, atualmente com seus quarenta e poucos anos de idade, em sua adolescência, fugiu de casa momentos antes que o pai abandonasse a casa familiar, todavia mantém até hoje contato com os familiares; afastou-se de sua naturalidade com seus doze anos de idade, conseguindo rapidamente um emprego em um estado da região centro-oeste brasileira, como pajem. Alguns anos depois, conheceu seu atual marido e mudou-se para a região sudeste, constituindo sua família; sendo que, seu sonho (latente), como ela mesma disse em lágrimas, era re-encontrar seu pai. Recentemente, há mais de um ano, seu pai é quem a encontra sendo que ele estava no norte do país, mas ela cria meios para trazer o mesmo para o sudeste. Ao encontrá-lo ele estava sofrendo gravemente de câncer, com uma abertura na virilha, fétida e expelindo secreções, bem como com o escroto extremamente avantajado. Imediatamente o encaminhou e o acompanhou para um hospital e cuida do mesmo até hoje, sendo que seu prognóstico anterior era vitalmente limitado.

Ocorre que, a família ao saber do retorno do pai e marido desaparecido, bem como do acolhimento ofertado pela filha fugitiva, os familiares evitam contato com ela, indagando eles que depois de tanto sofrimento ocasionado por esse pai, como ela pode proporcionar essa proteção? Nas palavras dela, nos confessa que apenas queria rever o pai, pois esse sempre foi o seu sonho, e isso a faz muito feliz; porém ela compreende os familiares, mas eles não a entendem. Todavia, aos poucos está conseguindo progressos.

Para sua felicidade e de seus confluentes, atualmente seu pai se encontra em um tratamento positivo em ascendência, mas ele não gosta de falar sobre o passado.

O que me encanta nessa história é a capacidade dessa senhora de mesmo ter tido como protótipo uma enorme e maltratada família, saindo de casa e iniciando um trabalho empregatício com uma década de idade, ela não negou sua vontade de ser feliz. Ela viveu e reconheceu cada momento, deparou-se, de acordo com a mesma, com um excelente esposo, e possui uma magnífica filha; e ao contrário de todo sofrimento que recebeu, sentindo-o em sua existência, ela plantou o amor e o colhe, dizendo com orgulho, tudo o que conseguiu alcançar e o que ainda conquista. Ela é um símbolo de uma existência amorosa, enriquecida constantemente com diálogo, que escolheu o criar sua existência num ser só, estabelecendo um estar com, lecionando e aprendendo incansavelmente o afeto relacional, e sem cessar, alimentando-se dos frutos que junto com sua família criativa pode fecundar.


Um comentário:

  1. Ah!!! Esplêndido... É uma das histórias que tem muita expressão e faz ponderar.
    Gostei muito. E eu também estou ai...rsrsrs


    Beijos

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