segunda-feira, 20 de abril de 2009

Suicídio e Assassínio: Uma Radiografia Sexual

Há tempos, muitos sabem que tudo são sexo e sexualidades: neles falam, neles pensam, os insultam, os controlam, os praticam... Há muito tempo, muitos autores deles fazem estudos, e um importante estudioso que deve ser lembrado é o filósofo Foucault, que escreveu a “História da Sexualidade”.

Falando de História talvez poucos podem pensar em fazer esse ensaio-análise cinematográfico da sexualidade na década de 80 até os dias atuais, que é um reflexo social.

Portanto, o que pretendo refletir com afinco, a partir de dois filmes, é ínfimo diante do acervo histórico visual, mas confio que seja o suficiente para que os ricos de pensamento possam começar a observar que nesses quase 30 anos, nada mudou, apenas se modificou o sentido das coisas, claro que por interesses.

Na década de 80, cônscio de seu trâmite histórico, imperava o DSM-III (Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais), que acusava a homossexualidade como uma doença. Ainda hoje, muitos pensam que é, mas somente na revisão deste manual, no DSM-IV, em 1994, o termo homossexualidade foi retirado da classificação de doenças e profissionais envolvidos com o psiquismo foram proibidos de trabalhar esse aspecto como algo que pudessem curar.

Durante estes 30 anos, muitas películas foram filmadas e retrataram essa população e suas condições históricas, tanto a homossexualidade masculina quanto a feminina; isso também virou algo com o qual o cinema pudesse lucrar. Eis, então, os dois filmes para o presente ensaio-análise:

Em 2003, foi lançado o filme “Soldier’s Girl”. Esse Filme foi baseado em fatos verídicos, e conta a história de um jovem soldado da Infantaria Aérea Norte-Americana, de 22 anos, que apanhou, em 05 de julho de 1999, até “morrer”, visto ter se apaixonado e possuir um romance com um transformista (transexual), dançarino que se apresentava trabalhando num nightclub. O soldado, Barry Winchell, foi espancado na cabeça com um bastão de Baseball e seu rosto foi totalmente desfigurado, dificultando até mesmo o reconhecimento do corpo pela sua mãe.

Recentemente, está sendo divulgado um novo filme “Prayers for Bobby”, ainda não divulgado no Brasil e sem previsão de chegada, e está sendo traduzido como “Orações para Bobby”. Nesse filme, Bobby Griffith, era um adolescente de 20 anos que cometeu suicídio, na década de 1980, por ser homossexual. Essa é a historinha do filme. Nele, as cenas apelam para emoção; ele foi feito para TV e é militante, isto é, tem a intenção de que com essa produção, outros não façam o mesmo que Bobby. Essa é a mensagem!!

Particularmente, confio que Bobby fez bem em se suicidar. Vejo o suicídio como uma das formar mais lindas de existência e sei que meus amantes leitores, cheios de juízos e pré-conceitos, vão me julgar por isso, mas quero evidenciar que NÃO apoio tal ato, principalmente porque vejo que em nossa existência temos muitas possibilidades e esta é uma delas. Afirmo isso sobre Bobby, porque conheço sua história: ele era diferente, amoroso, carinhoso, atencioso, inteligente, pensador, engraçado... enfim, perfeito demais para poder existir nesse mundo sujo; ele não se suicidou por ser homossexual como o filme roda afirmando.

Para quem conhece a história de Bobby, sabe que ele se suicidou pulando de uma ponte em meados de 1982. Naquele período, como hoje, para os desinformados, sua prática sexual era ferrenhamente condenada pelos livros, TV e principalmente pela religião, e ele, bem como sua família eram muito religiosos. Ele tinha pensamentos e acusações familiares de que ele era um pecador e iria para o inferno por isso. Sua mãe tentou curá-lo com a religião, e afirmou que não iria ter um filho gay. Bobby, obviamente, não conseguiu ser curado, e teve que sair de casa em busca de um espaço que pudesse ser seu.

Se observarmos, todos nós temos e queremos um espaço. Há lugares que nem nos atrevemos a pisar os pés porque não é nosso território; em outros tentamos nos inserir. Bobby, não tinha espaço e não conseguiu encontrar um espaço para si, e o auxílio emocional de uma prima-amiga, não foi suficiente, porque primeiro todos nós precisamos de um local, de um ponto fixo. Hoje, constantemente vemos guetos, que é a criação desses espaços onde as pessoas podem se sentir bem existindo entre os seus, pois em outros lugares serão condenados.

Na juventude de Bobby existiam guetos, mas não era isso o que ele precisava. Ele almejava uma sociedade humana, pois ele tinha amor, e eu até me arriscaria a qualificá-lo como Liebe Erfunden. Vivemos numa sociedade animal, e ele era um bom humano para ela. Por isso ele não se suicidou por ser homossexual ou por não ser compreendido, mas, em primeira instância, por não ter um espaço social; todavia todas essas variáveis estavam interligadas. Frise-se que compreensão é muito diferente de aceitação.

Bobby, então, não possuía vínculos espaciais (apenas temporais), e seus 20 anos de educação totalmente religiosa, se confrontavam com sua atual vida. O que lhe sobra, portanto, é o NADA-temporal. A falta de espaço o fez atuar rumo à aposentadoria de sua vida, pois a existência vital é suja. Não é à-toa que tomamos tanto banho...

Talvez alguém se pergunte: “Mas você não disse em outros artigos, que nós ‘temos’ que ser só?”

Sim, eu disse e continuo afirmando. Porém, uma coisa é ser só, outra é estar só. As duas situações estão interligadas. Socialmente não tem como estar só. Para se viver em sociedade você, querendo ou não, está com o outro.

Bobby queria ser escritor e escreveu em seu diário, confessando: “Eu não posso deixar que ninguém saiba que eu não sou heterossexual. Isso seria tão humilhante. Meus amigos iriam me odiar, com certeza. Eles poderiam até me bater. Na minha família, já ouvi várias vezes eles falando que odeiam os gays, que Deus odeia os gays também. Isso realmente me apavora quando escuto minha família falando desse jeito, porque eles estão realmente falando de mim... Às vezes eu gostaria de desaparecer da face da Terra.”

Ambos, Bobby e Barry, foram alvos de nossa sociedade; foram nossos alvos!! E eram demasiadamente humanizadores, para viver nessa sociedade animal. Não foram COMPREENDIDOS. Todavia, ambos os filmes, bem como todos os outros (dezenas) existentes que conheço, divulgam um perigo: forçam as pessoas, pelo medo da morte, a ACEITAREM outros “Barrys” e “Bobbys”, e não o correto, que seria ensinar as pessoas a COMPREENDEREM. Na realidade deveriam as pessoas suprimir a sopa darwinista (disputa pela sobrevivência do mais forte) e passarem a serem mais humanos e honrar o que ambos – Barry e Bobby – afirmavam e desejavam: apenas que todos fossem felizes.

Como podem observar, nada mudou. A sociedade hoje continua como sempre foi: julgadora e condenadora das sexualidades, tanto masculina quanto feminina. Talvez alguém insista em falar que hoje temos leis que punem os homofóbicos, que a religião não é mais tão severa e blá-blá-blás... Meus queridos amantes, a religião bem como a bíblia, foram feitas por homens, e qualquer anta sabe que as interpretações bíblicas dependem do momento histórico em que foram escritas, portanto há hoje muitos erros de tradução; e a religião em geral é guiada por homens que “esquizofrenicamente” acreditam que receberam tal poder de Deus. A sociedade, em geral, só criou leis que teoricamente protegessem as sexualidades, porque eles são um grupo populacional que gasta bilhões por ano. Isso é o interesse do capitalismo. Acordem, please!! Já disse, a existência é suja, e a sociedade é animal e, infelizmente, não humanizadora.

É meu papel como agente psicológico, continuar a evidenciar o que somos, por coerência, proibidos de fazer: curar a homossexualidade e todas as sexualidades. O ser humano, simplesmente e com potência, existe e tem que possuir pelo menos a dignidade de que durante o tempo que queria permanecer vivo, possa existir livre num espaço vital.

Portanto, para finalizar, assista a esse curto vídeo, mas que com certeza o fará entender Bobby, Barry e tantos outros conhecidos e desconhecidos... São poucos minutos, mas valem para a eternidade existencial. Vejam, ouçam, sintam e divulguem: não para impedir outros suicídios e assassínios, pois isso é impossível, muito menos para forçar uma aceitação, mas para fazer honra ao viver em sociedade como HUMANOS que COMPREENDEM os OUTROS!!





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