terça-feira, 21 de julho de 2009

O Belo Sofrimento

Atualmente, em que podemos perceber, notamos as pessoas fugindo de conflitos formadores, isto é, do sofrimento.

Podemos notar, como memorandos, o uso de relacionamentos superficiais − um ficar, um amasso, uma curtição −, visando não se magoar caso não venha a se efetivar como se esperava; no uso indevido da palavra amizade, onde as pessoas nem se quer conseguem transmitir um abraço, mas apenas o seu mecanismo gestual, porque ser amigo é em momentos sofrer pela contradição, que muitos, em sua fragilidade, não suportam experienciar. Enfim, e principalmente, mas não apenas, observa-se pelo uso escandaloso num relacionamento triplo: “médicos-psiquiatras-indústrias farmacêuticas”.

Lembro-me que muitas pessoas ficavam assustadas por mim, já que na profissão de psicólogo possuo o conhecimento medicamentoso, mas não prescrevo medicamentos. Eles esperavam muito de mim!! Eu, ao invés de assustado, sentia-me e me sinto aliviado. Em atendimentos, experienciando a atenção, o olhar, o calor, a palavra... sentindo a relação que ali se estabelece, quer seja num atendimento convencional, seja de alguns numa rotulação prévia de “loucura” fica evidente para os isentos de cegueira psíquica que uma pílula é incapaz; pois quem a comanda é quem a utiliza. Quem a coordena é o conjunto orgânico-psicológico do Ser.

Eu, no tronco psicológico pela TPG-Existencial, não estou contra o uso medicamentoso, que por sinal, auxilia a muitos. Sou reflexivo, a prostituição medicamentosa, que atualmente ramificam a todos os setores vitais que uma pílula pode fazer milagres. Mas ela é incapaz disso. Vemos hoje, nessa teia química, as generalizações que bloqueiam o CONTATO humano.

Meus amados, o sofrimento é essencial para a constituição existencial humana. Quantas coisas muitos poderiam aprender se não virassem o rosto, levando com este a possibilidade de visão; bloqueando as sensações.

Confesso-te: não são todos que sofrem e nem que sofrimento demasiado é existencial. Existem os sofrimentos sintéticos, e estes para alguns, mesmo que tenham e saibam usar seu Poder, não impedem sua invasão alienante. Muitos são diagnosticados por manuais de saúde mental, mas Sofrem pois estão tentando bloquear o invasor. Porém, é variável até quando alguns podem suportar.

Quanto a isso, existem casos e casos; os suicídios são os anexins, e existe, entre outros, o documentário relacionado à “Golden Gate Bridge” − em San Francisco, nos Estados Unidos. “The Bridge” foi lançado no ano de 2006. O diretor e a equipe filmaram a ponte, de dois pontos diferentes, durante todo o ano de 2004, gravando a maioria dos 24 suicídios naquele ano (e impedindo outros). Foram gravadas entrevistas com amigos, familiares e testemunhas, que recontam em detalhes histórias de depressão, abuso de substâncias e doenças mentais. “The Bridge” é um documentário profundo e poético, uma jornada visual e visceral por um dos aspectos mais amedrontados e condenados da natureza humana. Quem o experienciou pode entender rapidamente o que os amigos e familiares dos suicidas (que entendo como “essências livres”) diziam. Contando toda a trajetória, muitos deles afirmaram que se sentem aliviados, pois entendem que seus filhos e parentes, agora estão melhores do que se encontravam. É isso: é variável até quando alguns podem aguentar um sofrimento sintético, uma luta contra “um” alienante. Não pratico julgamentos e principalmente não condeno as essências livres; há muitas possibilidades que direcionam.

O que se explana profundamente aqui é uma visão crítica da postura hedonista e das formas de convívio social vigentes.

Todavia, o Belo Sofrimento, bem como o sintético, são sempre naquele, e às vezes neste, possibilidades de nos fazer entendermo-nos, e sermos existências cada vez mais amorosas e educadoras da humanidade. Como afirmou o filósofo existencialista Nietzsche, em “O Crepúsculo dos Ídolos”:


“O verme se enconcha quando é chutado. Essa é a sua astúcia. Ele diminui com isso a probabilidade de ser novamente chutado” (2000, p. 14).


Por isso meus amados, “quando o seu olhar tiver se tornado forte o bastante para ver o fundo, na escura fonte de seu ser e de seus conhecimentos, talvez também se tornem visíveis para você, no espelho dele, as distantes constelações das culturas vindouras” (Nietzsche. “Humano Demasiado Humano”, 2000, p. 196).


Um comentário:

  1. Que graça!!!! Artístico...E o assunto me agrada muito é vasto, para mim é assunto para produção de um livro...

    beijos

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