segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O Medo é Divino

Há tempos, busca-se a localização do Jardim do Éden. Esta atitude, além de ser um dos temas centrais de múltiplas lendas e mitos, bem como ser o fato que inspirou inúmeros artistas, sendo uma das mais frequentes a da arte européia, é também uma tentativa de reencontrar a felicidade perdida após a expulsão.

No Paraíso Terrestre havia a Árvore do Conhecimento. Todavia, para que uma árvore do conhecimento? Ora, conhecer é realmente estar diante e subir em uma árvore: respectivamente, observando seus inúmeros galhos e ramificações, e o esforço e estratégia praticados.

Porém, caso queira compreender caminhando pelo viés bíblico, ousando conhecer, para que Deus impediu que Adão e Eva não adquirissem conhecimento, proibindo-os de tocar e comer seus frutos, que, diga-se de passagem, são suculentos? Quem conhece e quer aprender, reconhece a voluptuosidade do continuum saber!

A proibição ocorre porque conhecer é o que Deus tinha medo. Os seres poderiam se auto-comandar. Porém, o pudor e culpa (religiosas) elaboradas pelo criado e lendário pecado, são um poderoso veneno estratégico. As aparências e os boatos podem enganar se as pessoas bloquearem o ato perceptivo; a serpente, naquele momento, era uma amiga. Conhecer é existencial! E hoje, em média, incentiva-se o conhecimento, entretanto, peca-se se conhecer, isto é, pune-se.

E o que isto leva a emergir? Ocorre ao homem, segundo o filósofo Nietzsche, o fato dele acabar por ser capaz de olhar para si e ver uma natureza de encantamento e ao mesmo tempo obscura, misteriosa e perigosa.

O Ser Humano não sabe o que fazer consigo mesmo e está perdido diante de um vasto e longo caminho que é seu. Ele não foi ensinado a pensar e muito menos a praticar adequadamente tais reflexões; apenas a obedecer e reproduzir, através de rédeas legislativas. Expulso de um suposto Paraíso, muitos o esperam, querendo sempre retornar ao passado, visto que o futuro é desconhecido, escuro e incerto, pela ausência do reconhecimento da unicidade do ente.

Quanto a isso, Shakespeare classicamente afirma: “nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência, poderíamos ganhar, pelo simples medo de arriscar!” No entanto, os próprios homens defecam de medo de si próprios e inventaram o Deus, o Paraíso... que(m) os culpa. Logo, as culpas veem do homem para o homem. Irritante.

Para Nietzsche o cristianismo, entre outros acontecimentos, é originalmente uma religião que encontrou solo fértil no meio de pessoas que viviam na miséria e na opressão; uma religião pobre em auto-estima. Em seus pensamentos, os homens foram banhados na lama com os ideais da divindade.

Então, contemple Ser Divino meu amante, ficando evidente, com louvor, que como se expressa cinematograficamente em Kafka (1991), é mais fácil controlar uma multidão do que um indivíduo. Uma multidão tem um objetivo em comum. O objetivo de um indivíduo é sempre uma incógnita de interesses.


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